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sexta-feira, 13 de abril de 2012

TUDO CERTO

Uma mulher de meia idade veio para o povoado depois que ficou viúva. Morava solita num rancho meio afastado. Tinha uma horta e uma lavourinha onde colhia abóboras, pepinos, feijão, etc. Um "alvoredinho", predominando pessegueiros, cujos frutos eram aproveitados para compotas, que vendia.

Foi ficando conhecida do pessoal por ser doceira de mão cheia e boa cozinheira. Vivia changueando pelas casas. Um dia fazendo pão, outro dia lavando e passando roupas e por vezes ajudando antes e depois das festas. Assim levava a vida.

Mulher muito simplória para falar. Não tinha muita prática com as letras e as contas, como dizia, por isto confiava muito no bolicheiro que lhe ajudava na "contabilidade" quando por lá aparecia para contar os trocados que ganhava.

Com o passar dos meses, o tal de namoro com os homens da redondeza começou ser comentado. Que ela recebia visitas durante a noite, essas coisas de aconchegar os carentes para um cafuné mais profundo e íntimo. Pessoas diziam não acreditar, outras ficavam em cima do muro e algumas colocavam uma pimentinha quando o assunto vinha à baila.

Estes boatos fizeram com que ela perdesse um pouco a confiança de certas donas de casa, as quais não a chamavam mais para as lidas de costume. Por outro lado, os boatos foram favoráveis a ela, no sentido de ir aumentando o outro tipo de "freguesia". Contudo conduzia o negócio com cautela e sem espalhafato. Também não era diário o atendimento e controlava para que não houvesse acúmulo de clientes num mesmo horário, para evitar alguma rusga ou "converseio" muito alto.

Sempre, depois de uma "noite farta", ela cedo ia ao bolicho para conferir a "féria".

Pois foi numa manhã, após "noitada gorda" que ela chegou-se para o seu amigo e pediu que verificasse se estava tudo nos conformes.

O Bolicheiro, que já sabia quanto ela cobrava de cada um, contou o dinheiro e perguntou quantos fregueses ela havia atendido durante a noite.

Deu uma mordiscada no lábio e com o dedo de uma mão, contava nos da outra mão fechada, os quais iam se abrindo conforme fossem contados e assim foi declinando em voz baixa os nomes dos favorecidos.

Quando terminou a contagem mostrou as mãos com todos os dedos abertos e usou mais dois do bolicheiro. Este deu uma olhada de admiração e espanto ao mesmo tempo pra ela e disse que alguém havia logrado porque estava faltando o pagamento de um.

Ela meio enferruscou a cara, mordiscou o lábio de novo, pensou um pouco deu uma olhada para cima e num pulo disse:

Ah! Me lembrei, o Nenê é meu afilhado, dele eu não cobro, tá certa sua conta!

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