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segunda-feira, 9 de julho de 2012

PRENÚNCIO

                                          Foto de Giancarlo M. de Moraes

Quando o dia foi embora, o vento seguiu com ele e a noite trouxe a aragem fria e uma lua cheia, sem nenhuma nuvem para impedir que seu brilho prateado inundasse os matos, várzeas e coxilhas, bem como a quincha dos ranchos e galpões.

Mais uns tições no fogo, já que depois da janta teria a prosa costumeira para encurtar um pouco a noite.

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- Vai ser grande a tordilha, falou meu avô - prenunciando a geada - com a experiência de quem já carregou no poncho muitos invernos.

- Lhe acredito, alguém concordou.

A prosa prosseguia no galpão, enquanto lá fora, os cuscos se enroscavam uns nos outros para guapearem a noite fria. Tudo parecia parado. Nenhum pio, nenhum outro cusco da vizinhança acoava, enfim, nenhum bater de cascos. Nada quebrava o silêncio, a não ser alguma gargalhada ao redor do fogo.

A gurizada foi se retirando aos poucos, ao passo que os mais velhos ainda davam as últimas tragadas nos palheiros e acertavam detalhes da lida para o dia seguinte.

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O silêncio só foi quebrado, quando o despertador campeiro, empoleirado nas grimpas de uma laranjeira, anunciou a madrugada.

Mais tarde foi a vez das vacas, dos terneiros e dos porcos, cada um reclamando seus direitos.

Virgem Maria, tudo havia branqueado a melena!

O dia foi clareando preguiçosamente assim como a fumaça do fogão se desprendia da boca de um pedaço de cano no oitão do rancho.

Realmente, a tordilha foi macanuda!

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