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terça-feira, 17 de junho de 2014

RESQUÍCIOS DE SAUDADE





Um cercado de taquaras em frente da casa formava um quadrado onde tinha um portãozinho de sarrafos. Por ali as visitas entravam e passavam pelo pequeno jardim cultivado com girassóis suspiros, dálias, gerânios, palmas, onze-horas, um pé de arruda e espada de São Jorge plantada dentro de um penico velho que ficava bem ao lado do primeiro degrau da escada que dava acesso ao interior da simples casa

A sala muito limpinha, assoalho de madeira sem pintura, tinha cadeiras de palha e uma pequena mesa no canto direito de quem entrava, onde repousava uma toalha de plástico azul com flores em relevo.

Um quadro de Nossa Senhora Aparecida decorava a parede que fazia divisa com a peça seguinte. Em outra parede alguns pregos com a finalidade de recepcionar os chapéus dos visitantes.

No quarto do casal ao lado esquerdo da sala, um guarda roupa e uma cama de madeira na qual um volumoso colchão de palhas de milho se escondia embaixo de uma colcha de retalhos que nos dias especiais dava lugar ao lençol do primeiro dia.

Atrás do quarto e da sala, o quarto dos guris e o da guria. A cozinha ficava separada da casa. Um fogão campeiro, um armário descascado cujas prateleiras deixavam cair as franjas dos guardanapos de “croché” e sustentavam pratos brancos com cachos de trigo em relevo, um bule azul com florzinhas brancas e miolo amarelo, fazendo par a um açucareiro com o mesmo motivo.

Perto do fogão uma caixa de madeira mais descascada que o armário, além de guardar lenha também servia de banco e dividia o espaço com um paneleiro triangular vertical de madeira (feito pelo noivo à época), portava os guardanapos também feitos pela noiva ao correr do tempo e uma mesa comprida com um banco em cada lado, tendo o mesmo comprimento dela. Era nela que nos juntávamos para as refeições e jogo de víspora (hoje bingo) e de cartas, sendo o mais preferido o “burro cagado”.

Hoje no terreiro, os resquícios do forno e do arvoredo portam a saudade daquele tempo que a ânsia pateava o nosso peito quando as férias escolares se aproximavam e com ela a viagem mais esperada com destino à casa dos “vôs”.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

BODEGA


Ali onde as estradas se cruzam,
está a bodega plantada,
famosa pela ramada,
um marco de referência,
tendo o Nico na gerência,
bodegueiro destorcido,
acima de tudo um amigo,
fiel e de sã consciência.

Tem cinamomos na frente,
e palanques para os pingos,
jogo de bocha aos domingos,
carteado e rinhas de galo,
gaita e violão fazem o embalo,
pra pares que sarandeiam
e xirus que compadreiam,
transbordando no gargalo.

Bodega da Encruzilhada,
razão social por batismo,
teu campeiro dinamismo,
se espalha aos quatro ventos,
levando aos ranchos o sustento,
pra patrões, peões e posteiros
e o carisma do bodegueiro,
apresilhado nos tentos.