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domingo, 13 de julho de 2014

O QUINHÃO DAS QUITANDAS


Sentado no recavém da carreta com as pernas penduradas, o piá se “entertia” contando os rastros dos bois que ficavam moldados na areia da estrada.

Vez por outra quando algum dos bois estercava ele se preocupava contar quantos rastros eram atingidos pela descarga intermitente, procurando não esquecer a conta pra ver o próximo boi que aliviasse o mondongo, como dizia, venceria ou perderia na quantia de rastros tapados.

O bodoque pendurado no pescoço era seu inseparável parceiro, bem como a munição para o mesmo no bolso da bombacha.

Sob a sombra da carreta, o casquinho resfolegava. Por vezes dali saía pra farejar uma macega ou mijar no pé do moirão. A carreta prosseguia, tendo o cusco que aumentar o tranco pra voltar pra sombra. O piá achava engraçado o animalzinho correndo de língua de fora e alternando a corrida ora em quatro, ora em três patas. Quando chegava perto, balançava o rabo pitoqueado logo após o nascimento, o que fez que o batizassem de Toquinho.

Na lavoura gorduchas melancias e melões eram colhidos cuidadosamente e carregados até a carreta para no dia seguinte engrossar a quitanda na beira da estrada principal, sob uma ramada de taquaras e folhas de coqueiro. Ali permanecia junto ao avô até que o “sortimento” fosse vendido.

O piá já era bastante conhecido pelos passantes que dedicavam atenção e carinho por ser ele destorcido, educado e bom de prosa. As melancias e melões deles eram as melhores do planeta. Isso ele repetia para cada um que parasse para comprar. A gorjeta não era contabilizada no montante da venda. Era o quinhão dele que depois gastava no bolicho em rapaduras, balas, bolitas e alguma lembrancinha pra vó, pra mãe e pra mana.

Já de volta ao rancho contava as novidades da “viagem” e na hora de ir para a cama queria saber do avô que dia iriam de novo, pois tinha visto algo lá no bolicho que não trouxera porque a guaiaca d’uma hora pra outra, sem ele querer lhe faltou com os pilas.

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