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sábado, 25 de julho de 2015

TEMPO CABORTEIRO



Encosta os tições Juvêncio,
que a noite vai ser baguala,
só tenho meu velho pala,
um pelego e a badana
e pra não melar de novo,
vou ajeitar perto do fogo,
um arremedo de cama.

O dia foi tenebroso,
desde cedo meu parceiro,
este tempo caborteiro,
me guasqueou com seu açoite,
mas com o calor da chama,
neste improviso de cama,
vou pelear com o frio da noite.

Amanhã depois do mate,
eu me boto na estrada,
cedito quebrando a geada,
pra chegar no meu rincão,
então na noite brasina,
terei o calor da china,
sem ter que dormir no chão!

“Oiga” tempo caborteiro,
que congela até os ossos,
mas com fogo, mate e china,
dá o tempero que gosto!

domingo, 12 de julho de 2015

FOI-SE COM O TEMPO




Passaram carretas e mais carretas na estrada. Nas casas moraram pessoas e mais pessoas.

Na estrada cada carreteiro com seu destino e nas casas cada pessoa com sua história.

E na carga das carretas iam se ajeitando as quitandas e nas casas as moças espiavam pela janela os carreteiros. Por baixo das carretas, os cuscos tranqueavam assoleados e os das casas, saiam para a estrada pra pelear.

E os bois na estrada, cutucados pela picana de taquara, puxavam preguiçosamente a carreta e nas casas, os bois ruminavam no potreiro, à sombra das taquareiras. 

Na estrada, a fumaça dos palheiros serpenteava em direção ao céu e nas casas, a fumaça dos fogões esgueirava-se por entre o galpão e o arvoredo.

Na estrada, a voz cantada do carreteiro chamava a junta da ponta e nas casas o canto de uma mãe fazia a cria dormir.

E na estrada, hoje, a carreta não passa mais e nas casas as moças não espiam mais na janela e os cuscos latem por trás da tela.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

CHIMARREANDO COMIGO

Nas horas que chimarreio,
na companhia de mim,
o pensamento faz um passeio,
naqueles tempos que vim.

Minh’alma rejuvenesce,
com a seiva verde espumosa.
É um ritual tal uma prece,
do meu eu comigo em prosa.

A bomba me traz a essência,
enquanto percorro a consciência,
mesmo estando alheio.

E ao secar a cambona,
a cuia ronca chorona,
findando assim o passeio!