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sábado, 27 de abril de 2024

O PEALO DO AMOR

 


O taura num fim de semana

saiu pra golpear uma cana

e retoçar num surungo

com um talagaço no liso

se sentiu no paraíso 

quando a gaita deu um resmungo


Depois de uns sambas com Fanta

pescoçeou uma percanta

e saiu pedindo cancha

dando conta do recado

num xote bem figurado 

pois era herdeiro da dança


E era dele a bolada

com a percanta amorenada

e no cabelo uma flor

tinha um olhar de lua

que o taura não recua

e se desmancha em amor


Um cochicho no ouvido

foi logo correspondido

com  um olhar de malícia

e o taura que não era bobo

sentiu estar ganho o jogo

e amiudou as carícias 


Com mais uns sambas com Fanta

e a conquista da percanta

sentiu-se dono do mundo

e o amor com seu embalo

no taura deu um pealo

no retoço do surungo


Depois tinindo as esporas

levou a percanta embora

quando o dia amanheceu

e por aquele olhar de malícia 

que aguçou as carícias 

mais um rancho se ergueu

quinta-feira, 18 de abril de 2024

TRÊS DIAS E TRÊS NOITES

 


Por volta da meia tarde, a cachorrada enfureceu querendo subir numa velha árvore que tinha no terreiro, entre o galpão e a casa. A criação toda sumiu na mesma hora.

 

Armado com um facão e um machado, fui chegando cautelosamente,  com o olhar fixo para o tronco e a copa da árvore.  Nada via mas os cachorros continuavam enfurecidos. 

Fiquei de ronda por três dias e três noites sem descobrir o que era.

 

Quando amanheceu o quarto dia, mandei um guri pra avisar o compadre e pedir ajuda, porque eu estava com receio de subir na árvore sem alguém por perto.

Prontamente, o compadre atendeu o meu chamado e trouxe junto a comadre e uma espingarda de grosso calibre, de dois canos e com a cartucheira contendo vinte e oito cartuchos carregados, sendo oito com balim.


Quando chegaram, eu ainda estava  embaixo da árvore, muito cansado e quase morto de sono, na companhia dos cachorros.


Contei detalhadamente o ocorrido e quando terminei o relato, a comadre, que tinha tendências para o sobrenatural, disse que iria fazer uma benzedura. Próximo a raiz da árvore, acendeu um alto fogo e colocou panos e galhos de arruda que formaram uma grossa nuvem de fumaça tapando toda a copa.

Daí a pouco, ouvimos o zumbido de um grande enxame de abelhas que abandonou a árvore. 


Minutos depois começou pingar mel lá de cima,  o qual fui aparando em um balde.


Se eu tivesse visto antes, o que era, não teria deixado a comadre realizar o ritual porque durante o período que as abelhas lá permaneceram, tive o lucro de "sete" quilos de mel.


terça-feira, 16 de abril de 2024

VOVÓ BELA



"Larguem de ser tolos guris"

dizia a vovó pra nós

com forte exaltação na voz.

Porém depois do sermão,

nos acariciava com a mão.

Hoje lembro  a Vó Bela,

sentada na banqueta dela

socando arroz no pilão.


Um relho cabo comprido

tinha sempre bem à mão,

pra espantar a criação 

que em sua volta alardeava,

com os cachorros ralhava

quando chegava alguém,

a todos fazia o bem

e lindos causos contava!


De noite depois da janta,

sentados perto do fogo,

na hora alegre do jogo,

de baralho ou de pausinhos,

a vó com muito carinho

e moderação na fala,

dava um punhado de balas

pra os da casa e os vizinhos.


Quando chegava o sono

e a gurizada boleava,

a  vovó Bela arrumava,

pra cada um uma cama

e com postura de dama,

depois do Sinal da Cruz,

agradecia a Jesus

e do lampião soprava  a chama.


Saudade minha Vovó Bela,

é a herança que tenho.

Lembro tu como um desenho

bem bonito e colorido,

também lembro do vestido

que nos domingos usavas

e no espelho te olhavas

com o cabelo "lambido".


As travessuras do passado,

ficaram pra trás no tempo

e hoje quando me sento 

em frente ao teu retrato,

vejo um rosto sensato

me olhando com um sorriso,

com o teu cabelo liso,

vem a saudade de fato.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

ORRE DIACHO

 


Uma bordoada na melena 

com gosto força e jeito

pra que o diabo do respeito 

fosse imposto na sala

e num chuvisco de bala

botaram o maula pra fora

pois dançava de espora

sem bombacha e só de pala


Foi embretado na cerca

sem ninguém pra uma ajuda

calçado numa bicuda

grelou o "zóio" que nem sapo

mas com destreza de gato

boteou igual uma serpente

e abriu cancha novamente

correu e ganhou o mato


Enroscado nas esporas

tonteou e caiu de bruços 

e o sangue brotava em tufos

mas continuou o alvoroço 

e só terminou o retoço

e aliviaram a carga

quando chegaram os de farda

sacando os "berro grosso"


Um atirava pra cima

outro atirava pra baixo

se espalharam os machos

e debandou o mulherio

a cachorrada sumiu

o maula limpou o peito

e gritou então com respeito

vão pra........................... PQP