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sexta-feira, 13 de junho de 2025

EM SEGUNDOS

Quando em vez a saudade 

calça esporas

e belisca até a alma deste peão 

atiro as garras 

no lombo do pensamento 

e devaneando pede cancha o coração 


Em segundos

não defino o que sinto

e esqueço de sorver o chimarrão 

um galo canta me trazendo à realidade

e a saudade toma conta do galpão

quarta-feira, 14 de maio de 2025

SÓ POR BRINCADEIRA

Faltando um dia pras férias 

bem na hora do recreio 

me envolvi num tempo feio

apanhei e não foi pouco

dois manos metidos a louco

e com veneno nas veias

me encheram o "zóio" de areia

e me afofaram a soco


Por causa da brincadeira

de chamar um de cunhado

o outro ficou invocado

não deu folga e já se veio

me quadrei de revesgueio

pois mal e mal enxergava

e em silêncio implorava

que terminasse o recreio 


A gurizada na volta

gritava e fazia aposta

pra mim a melhor proposta 

era me mandar dali

assim que deu eu corri

mas logo me deram um tombo

sapatearam no meu lombo

e me "floxou" o xixi


Enfim veio a professora 

e a diretora atrás 

era o próprio Satanás 

quando virava do avesso 

mas pra mim não tinha "preço"

para sair do sufoco

pois tava balofo a soco

que não erravam o endereço 


Terminou o reboliço 

quando bateu a sineta

mas a coisa ficou preta

sem ninguém no meu auxílio 

além de perder o brilho

e arrumar dois inimigos

me botaram de castigo

ajoelhado em grãos de milho


No outro dia sem aula

só entrega do boletim

foi um alívio pra mim

ficar longe dos malvados

e com a história de cunhado

aprendi bem a lição 

e guria que tinha irmão 

eu nem olhava pra o lado

segunda-feira, 21 de abril de 2025

TEMPOS DE OUTRORA

À beira de uma antiga estrada,

"mora" a antiga fazenda,

rodeada por antigos cinamomos,

saudosa, tristonha 

e no abandono.


Antigamente, 

antigos amigos, 

em antigas carretas, 

de longe chegavam,

e entre mates e pitos,

ao pé do fogo, 

os antigos proseavam.


E os pais dentre as lidas,

faziam as crias

e nas guerras peleavam,

e os vôs, por antigas razões,

as armas portavam.


E as mães dentre as lidas,

embalavam as crias 

nos antigos berços,

e as vós, nos antigos oratórios,

com antigos rosários,

rezavam os terços. 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

TEMPO ALHEIO

A casa era um tanto mais velha que o dono.

Fazia par com o galpão num permanente sono.

O dono, ainda com sentidos,

levava a vida entre chás e comprimidos 

e não usava mais esporas.

Valia-se de um bastão,

assim como tinham escoras,

a casa e o galpão.


Da casa, que fora amarela,

iam caindo as janelas,

e nas roupas do velho,

remendos lembravam elas.

Ele ainda usava chapéu,

e a quincha do galpão,

era um pedaço de céu.


A manivela do poço trocada,

por uma bomba ora emperrada.

A água fresca e cristalina,

não matava mais a sede da tina.

No jardim antigas  roseiras,

e as frutas das teimosas laranjeiras,

não eram iguais,

e a faca do velho não as descascava mais.


E o tempo alheio,

assim como veio,

alheio se vai.

E o velho, a casa e o galpão, 

com comprimidos, bastão e escoras, 

mesmo assim cairão!


terça-feira, 25 de março de 2025

NO TEMPERO DA FUMAÇA

 Madrugando no galpão 

mateia solito o Taura

envolto pela aura

do clarão da lavareda

e o tempo numa vereda

engarupado na fumaça 

pelas frestas ronda e passa

como um novelo de seda


É da rotina da lida

o viver em um galpão 

é parte do coração 

vida vivida que passa

é o tempero da fumaça 

é o aconchego campeiro 

é o rancho hospitaleiro 

essência de fibra e raça


Quebrando aquele silêncio 

a velha cambona chia

e o oh de casa! do dia

vem com o rei do terreiro 

o crepitar do braseiro 

desprende faíscas vivas

lendária herança nativa

do fogonear galponeiro


domingo, 9 de março de 2025

AGREGATA

 Apareceu no galpão 

uma gatinha magricela 

dava pra contar as costelas

arisca e assustada

por sorte a cachorrada

quando ralhei atendeu

e a bichinha se encolheu

mostrando os dentes e arrepiada


Fui tenteando pra pegar

com jeito carinho e calma

com o comando da alma

e a dó no coração 

sem condenar a intrusão 

daquele ser no abandono

fui me sentindo o dono

pra aquerenciar no galpão 


E é no galpão que ela fica

bisbilhotando e atenta

tem um "quê" de ciumenta

quando pra o cusco dou mimo

vem com um dengoso gimo

se roçar na minha canela

e ao dar mimo pra ela

mais de Deus me aproximo


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

EMPANTURRADO DE CEVA

 

Quase baleado na asa

o Taura rumou pras casas

já findando a domingueira 

com as rédeas frouxas atadas

meio torto pela estrada 

no lusco-fusco da poeira 


Cantarolava sem rima

ora voz grossa ora fina

e arriscava um assobio

num vai e vem de pescoço 

dava um ronco mais grosso 

de invejar um bugiu


Boleou a perna no passo

primeiro molhando os braços 

depois a melena e a cara

e continuando a cantiga

foi aliviar a bexiga

numa malha de taquara


Empanturrado de cerveja

deu de mão numa carqueja 

alçou a perna e prosseguiu

e entre uma mascada e outra

dava um trejeito na boca

na busca do assobio


terça-feira, 8 de outubro de 2024

DESMANEADO


Quando a ânsia de guri
no meu peito corcoveia
substituo a maneia
por um bom par de esporas
e me vou cego pra fora
dando grito e manotaço
para levar um abraço
aos parceiros de outrora

E ao avistar a porteira
com a emoção me engasgo
mas logo me entusiasmo
e a alegria transcende
a ânsia se desprende
do palanque da saudade
pra se tornar liberdade
que quem é taura compreende

Chego de sorriso largo
como no tempo de moço
e um maragato no pescoço
que o vento cumprimenta
mas o chapéu se sustenta
nos tentos do barbicacho
e esqueço aquele diacho
que na cidade atormenta

Então livre da maneia
e calçado de esporas
gaudereio campo afora
como no sistema antigo
e pelo corredor prossigo
carregando os próprios passos
que me conduzem ao abraço
daqueles velhos amigos

terça-feira, 1 de outubro de 2024

PRA QUEM JÁ FOI DE GALPÃO


Fim de tarde chegando a hora 

da despedida do dia

boleia a perna a nostalgia 

pra matear no coração 

pois quem já foi de galpão 

e se muda pra cidade

morre e não mata a saudade

daquela vida de peão 


Saudade da faísca e da fumaça 

e da brasa viva no tição 

do calor do fogo-de-chão  

e da cambona chiadeira

do café de chaleira 

com uma boia de sal

que tinha gosto especial

ao rapar a frigideira 


Na querência da cidade

emalado então me sinto

e a alma tem o instinto 

de corcovear livremente 

e a ânsia num repente

meu sentimento cutuca

pra fugir da "aripuca"

que sujeita este vivente 


E com a nostalgia palanqueada

no tronco do coração 

encilho o chimarrão 

pra matear com as lembranças 

e aquele tempo da infância 

em um filme se apresenta

passando em câmera lenta

no qual me vejo criança 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

DANDO RÉDEAS AO INTENTO

 


No sábado sempre é dia

de um banho com mais capricho 

geralmente um cambicho

faz o taura mudar o cheiro 

se embunitar ficar faceiro

dando rédeas ao intento

e se apresentar pacholento

pra dar um pealo certeiro


Uma encilha de respeito

e uma pilcha no traquejo 

levando a ânsia e o desejo

que acumulou na semana

e a goela seca por cana

ou para alguma cantiga

que às vezes até lhe obriga

durante a "polka de dama"


O sábado finda ligeiro 

quando a farra toma conta

e o domingo desponta

entre a fumaça e a poeira 

e ainda na borracheira

e "ariado" das patacas

o taura leva a ressaca

pra curar segunda-feira