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quarta-feira, 29 de março de 2023

... DAS MADRUGADAS

Como é bom acordar cedo

ouvindo o cantar dos galos

o relincho dos cavalos

e o canto da passarada

passar uma água no rosto

cevar um mate a meu gosto gosto

com sabor de madrugada


Como é bom sentir o cheiro

das flores das laranjeiras

de apojar na mangueira

pra ter o leite nas casas

atiçar o fogo de chão

pra rescender no galpão

o cheiro do chibo nas brasas


Como é bom varrer o terreiro

levar pra o monturo o cisco

onde um lagarto arisco

se escapa da cachorrada

como é bom levantar cedo

no ritual do arremedo

de outras tantas madrugadas


segunda-feira, 27 de março de 2023

... DAS NOITES

As sombras se esconderam

dentro da noite escura

enquanto lá nas alturas

uma estrela cadente

se boleou rumo ao poente

e o taura "bombiando" o céu

rezou tirando o chapéu

fez um pedido bem crente


Lembrou do tempo de piá

que do escuro tinha medo

e tinha que guardar segredo

quando era feito um pedido

mas ele sem ter sentido

que santo não é brinquedo

revelava o segredo

e assim não era  atendido


Lá em riba outras estrelas

numa formação em cruz

orientam com sua luz

mesmo numa noite escura

aquele que se aventura

nas andanças pelo pago

com carência de afago

na esperança de cura


Contra a costa do mato

revoa um vaga-lume

e um suave perfume

vem de carona no vento

e mirando o firmamento

emponchado em suas lembranças

o taura bebe distâncias

num mouro ao tranco lento


quarta-feira, 15 de março de 2023

DESASSOSSEGADO

No silêncio das horas

quando o mate faz costado

sinto o peito apertado

por falta de um aconchego

junto do fogo percebo

uma visão que se forma

vem para mim e retorna

pra tirar o meu sossego


Meu cusco arrepia o pelo

rosna mas não se levanta

lá fora um galo canta

sem ser hora de cantar

ouço a cambona chiar

sem do tempo ter noção 

e na brasa de um tição

vejo alguém a me espiar


Levanto e abro a janela

vejo  as estrelas e a lua 

vejo a coxilha nua

quem sabe louca de frio

ouço do vento o assobio

entre o galpão e o arvoredo

levando nele o segredo

num galopar bem macio


Afasto bem os tições

recosto a cuia e cambona

e minha alma se arrincona

enquanto o coração bate

e na pelegama de um catre

campeio em busca do sono

pra num sonho ser o dono

de uma parceira pra o mate