Um cercado de taquaras em frente da casa formava um quadrado onde tinha um portãozinho de sarrafos. Por ali as visitas entravam e passavam pelo pequeno jardim cultivado com girassóis suspiros, dálias, gerânios, palmas, onze-horas, um pé de arruda e espada de São Jorge plantada dentro de um penico velho que ficava bem ao lado do primeiro degrau da escada que dava acesso ao interior da simples casa
A sala muito limpinha,
assoalho de madeira sem pintura, tinha cadeiras de palha e uma pequena mesa no
canto direito de quem entrava, onde repousava uma toalha de plástico azul com
flores em relevo.
Um quadro de Nossa
Senhora Aparecida decorava a parede que fazia divisa com a peça seguinte. Em outra
parede alguns pregos com a finalidade de recepcionar os chapéus dos visitantes.
No quarto do casal ao
lado esquerdo da sala, um guarda roupa e uma cama de madeira na qual um
volumoso colchão de palhas de milho se escondia embaixo de uma colcha de
retalhos que nos dias especiais dava lugar ao lençol do primeiro dia.
Atrás do quarto e da
sala, o quarto dos guris e o da guria. A cozinha ficava separada da casa. Um fogão
campeiro, um armário descascado cujas prateleiras deixavam cair as franjas dos
guardanapos de “croché” e sustentavam pratos brancos com cachos de trigo em
relevo, um bule azul com florzinhas brancas e miolo amarelo, fazendo par a um
açucareiro com o mesmo motivo.
Perto do fogão uma caixa
de madeira mais descascada que o armário, além de guardar lenha também servia
de banco e dividia o espaço com um paneleiro triangular vertical de madeira (feito
pelo noivo à época), portava os guardanapos também feitos pela noiva ao correr
do tempo e uma mesa comprida com um banco em cada lado, tendo o mesmo
comprimento dela. Era nela que nos juntávamos para as refeições e jogo de
víspora (hoje bingo) e de cartas, sendo o mais preferido o “burro cagado”.
Hoje no terreiro, os
resquícios do forno e do arvoredo portam a saudade daquele tempo que a ânsia
pateava o nosso peito quando as férias escolares se aproximavam e com ela a
viagem mais esperada com destino à casa dos “vôs”.