Foto de Giancarlo M. de Moraes
Quando o
dia foi embora, o vento seguiu com ele e a noite trouxe a aragem fria e uma lua
cheia, sem nenhuma nuvem para impedir que seu brilho prateado inundasse os
matos, várzeas e coxilhas, bem como a quincha dos ranchos e galpões.
Mais uns
tições no fogo, já que depois da janta teria a prosa costumeira para encurtar
um pouco a noite.
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- Vai ser grande a tordilha,
falou meu avô - prenunciando a geada - com a experiência de quem já carregou no
poncho muitos invernos.
- Lhe
acredito, alguém concordou.
A prosa
prosseguia no galpão, enquanto lá fora, os cuscos se enroscavam uns nos outros para
guapearem a noite fria. Tudo parecia parado. Nenhum pio, nenhum outro cusco da
vizinhança acoava, enfim, nenhum bater de cascos. Nada quebrava o silêncio, a
não ser alguma gargalhada ao redor do fogo.
A gurizada
foi se retirando aos poucos, ao passo que os mais velhos ainda davam as últimas
tragadas nos palheiros e acertavam detalhes da lida para o dia seguinte.
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O silêncio
só foi quebrado, quando o despertador campeiro, empoleirado nas grimpas de uma
laranjeira, anunciou a madrugada.
Mais tarde
foi a vez das vacas, dos terneiros e dos porcos, cada um reclamando seus
direitos.
Virgem
Maria, tudo havia branqueado a melena!
O dia foi
clareando preguiçosamente assim como a fumaça do fogão se desprendia da boca de
um pedaço de cano no oitão do rancho.
Realmente,
a tordilha foi macanuda!