Quando o dia foi embora, o vento seguiu com ele e a noite trouxe a aragem fria e uma lua cheia, sem nenhuma nuvem para impedir que seu brilho prateado inundasse os matos, várzeas e coxilhas, bem como a quincha dos ranchos e galpões.
Mais uns tições no fogo, já que depois da janta teria a prosa costumeira para encurtar um pouco a noite.
.......................................................................
- Vai ser grande a tordilha, falou meu avô - prenunciando a geada - com a experiência de quem já carregou no poncho muitos invernos.
- Lhe acredito, alguém concordou.
A prosa prosseguia no galpão, enquanto lá fora, os cuscos se enroscavam uns nos outros para guapearem a noite fria. Tudo parecia parado. Nenhum pio, nenhum outro cusco da vizinhança acoava, enfim, nenhum bater de cascos. Nada quebrava o silêncio, a não ser alguma gargalhada ao redor do fogo.
A gurizada foi se retirando aos poucos, ao passo que os mais velhos ainda davam as últimas tragadas nos palheiros e acertavam detalhes da lida para o dia seguinte.
......................................................................
O silêncio só foi quebrado, quando o despertador campeiro, empoleirado nas grimpas de uma laranjeira, anunciou a madrugada.
Mais tarde foi a vez das vacas, dos terneiros e dos porcos, cada um reclamando seus direitos.
Virgem Maria, tudo havia branqueado a melena!
O dia foi clareando preguiçosamente assim como a fumaça do fogão se desprendia da boca de um pedaço de cano no oitão do rancho.
Realmente, a tordilha foi macanuda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário