Desenho de Felício Agostini Lampert |
Passava das duas e pouco da noite quando as rajadas do vento norte começaram dar “trompadas” em tudo, fazendo aquele reboliço característico quando ele passeia pelo pago.
Uma folha de zinco com uma das pontas soltas que fazia contraponto com a porta do galpão, presa só numa dobradiça, fez com que o peão levantasse pra dar um jeito. Atou a porta com um ajoujo, porém o zinco, deixou para quando o dia clareasse.Cansado, deitou-se novamente, mas mesmo tapando a cabeça não conseguiu firmar o sono.
O vento alternava suas rajadas entre fortes e fracas, às vezes parecendo ter-se ido, mas bufava novamente balançando tudo.
O sol penetrando por uma janela entreaberta trouxe o dia a cabresto. Nesta hora o peão já chimarreava, “entertido” com a dança das labaredas provocadas pelo vento que se espremia pelas frestas da parede e por baixo da porta, fazendo a poeira entreverar-se com a fumaça, numa dança rebojada em um dos cantos do galpão.
Lá no terreiro, os galhos quebrados pareciam se agarrar uns aos outros, amontoados contra a cerca da horta. O mais, tudo voara em direção ao sul, menos a folha de zinco que lá da “cunheira” continuava abanando, como pedindo socorro.
Mais dois dias ainda, o vento continuará, amainando um pouco com o sol que lhe puxa o freio e se aproveitando do escuro da noite para junto com os mitos fazer esparramo e depois levar o recado para a chuva que o passeio dele terminou e chegou a hora do passeio dela.