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quarta-feira, 6 de maio de 2015

TROVADOR SARARÁ

Num comércio de carreiras
conheci o tal Rosalino
um sarará teatino
domador e bom na trova
tinha na cara uma cova
herança de um três listas
um rasgo arriba da vista
vestígio de alguma sova

Chapelão com vincha escura
nas orelhas desabado
um lenço bem colorado
já com as franjas esfapiadas
bota campeira esfolada
bombacha preta bem ruça
mas um sorriso na fuça
de ganhar qualquer parada

Se achegou para a copa
cabresteando uma ruana
num gesto pediu uma cana
que golpeou num talagaço
e com a cana do braço
meio que enxugou o bigode
e no cavanhaque de bode
ajeitou o barbicacho

Até me agradei do taura
pelo seu jeito simplório
e provoquei seu repertório
com um verso no repente
e já no mas o vivente
tapeou na testa o chapéu
e levantando a mão pra o céu
saudou o povo presente

Tinha ternura na alma
e um timbre que dava gosto
a alegria no rosto
e um compasso bonito
mirava o infinito
sendo o dono de si
e até lhe convenci
pra que trovasse solito

E assim foi o sarará
tarde a dentro na porfia
e prometeu que outro dia
voltaria outra vez
gostei da sua altivez
e abracei diante do povo
pois se ele vir de novo
talvez eu trove - talvez

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