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terça-feira, 28 de maio de 2019

... DA INFÂNCIA

Foto de Giancarlo M. de Moraes.
Quero lembrar do meu tempo,
quando morava lá fora,
mais que ansioso espero a hora,
para ouvir os quero-queros,
gritando lá no potreiro
e comer rapa de carreteiro,
feito em panela de ferro.

Quero brincar de mangueira,
na raiz daquele umbu,
onde este pequeno xiru,
se achava o rei do gado.
Quero quebrar a quietude,
“alvorotando” o açude,
num baita banho pelado!

Quero melar lixiguana,
abelha e camoatim.
Quero subir no cupim,
que foi parceiro discreto,
quando dava um alce a lida,
em aventuras proibidas,
num lugarzito secreto.

Quero pescar de caniço,
na sanguinha da divisa,
onde usei a camisa,
improvisando uma rede
e depois do arrastão,
juntei as conchas das mãos,
cheias “d‘água” pra minha sede.

Quero montar a cavalo,
naquele gateado meu,
pra mostar que ainda sou eu,
num tiro de quadra e meia,
depois voltar pra ramada,
com a tala bater espada,
arremedando uma peleia.

Quero fazer outras lidas,
que não dá pra ser agora,
mas quando chegar lá fora,
na querência onde nasci,
quero esquecer a cidade,
varrer pra longe a saudade
e de novo ser guri!

quinta-feira, 23 de maio de 2019

CAVALGADORES

Na pessoa deste parceiro JORGE LUIZ LARANJEIRA, homenageio a todos da lida. (Serra do Corvo Branco - SC).

                                                       
Se confundem com centauros
nas canhadas e nas coxilhas
pelas estradas e trilhas
no lombo do “nobre amigo”
levando sempre consigo
o amor pelo Rio Grande
pelos confins onde andem
nunca lhes negam abrigo

Camaradagem e parceria
sempre levam nos peçuelos
não tem de raça e nem pelo
todos são iguais na tropa
do chapéu até a bota
e do rabicho ao buçal
o homem e o animal
solícitos seguem a rota

Reverenciando heróis
ou fatos de nossa história
cumprem sua trajetória
semeando amizade
na campanha ou na cidade
são aclamados pelo povo
sendo velho ou sendo novo
tradição não tem idade

Que estes homens centauros
não desistam desta lida
isto faz parte da vida
é um vício bom e acalma
o seu ego bate palma
pois do Rio Grande és vassalo
levando ele a cavalo
com toda a força da alma

     

quarta-feira, 15 de maio de 2019

QUANDO A CUSCADA SE PEGA

http://www.tudodesenhos.com

Um brasino tigrado,
outro oveiro lanudo,
dois cachorros macanudos
igualando-se em tamanho.
O brasino num arregano
mostrava todos os dentes,
como quem diz sai da frente,
que sem demora te lanho.

O lanudo arrepiou o pelo
da cola até o pescoço,
atento roncando grosso,
pronto pra um bote certeiro.
O brasino traiçoeiro,
se abaixou num movimento,
dando um salto violento
que atirou longe o oveiro.

Saiu-se bem o lanudo,
pegando o outro na orelha,
a peleia ia parelha
daqueles dois combatentes,
se embolaram e de repente
se ergueram em duas patas,
quando coloreou a gravata
numa cruzada de dente.

O brasino pegou firme,
tremeu a perna o oveiro,
se espichando no terreiro
parecendo uma cobra,
mas numa brusca manobra
pegou o outro pra valer
e é aí que a gente vê,
como um cusco se desdobra.

Custaram separar os dois
porque nenhum se entregava,
um largava o outro pegava,
nenhum queria dar trégua.
Andavam lá na macega
na encarniçada peleia,
chomico! que coisa feia
quando a cuscada se pega.