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segunda-feira, 29 de julho de 2019

TROTE DA ESPERANÇA



Foto própria


Um desacerto com o patrão
por lambança de outro peão
por muito pouco quase nada
deram apoio ao lambanceiro
e mandaram que o campeiro
pegasse logo a estrada

Meia dúzia de patacas
se ajeitaram na guaiaca
pagamento do patrão
saiu sem ter despedida
porém de cabeça erguida
com consciência e razão

Na calma da madrugada
sobre o lençol da geada
o quero-quero num grito
rasgou o silêncio do campo
e montado num pingo ao tranco
ia o vivente solito

Chapéu negro de aba larga
esporas cosquilhando a ilharga
enroscadito no pala
só se via o nó do lenço
um palheiro fumacento
e um fiambre recheando a mala

Já com horas de estrivo
cavalgava pensativo
deixando o rastro na estrada
desta vez ia solito
floreando um assobiozito
mesclado com as baforadas

Há algum tempo passado
por ali foi noticiado
que a Estância Santo Hilário
tava de porteira aberta
tinha pegada na certa
muita doma e bom salário

E pra lá tomou o rumo
pra seguir mantendo o prumo
de um peão que entende da lida
e sem chorar as pitangas
deixar de viver de changas
mudar de sorte e de vida

Com o sol já no horizonte
ao trote cruzou a ponte
do velho rio Camaquã
então vencida  a distância
deu Oh! de casa na estância
com esperança no amanhã

3 comentários:

  1. Um abraço amigo poeta, uma beleza, como sempre.

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  2. O humilde leva a vidinha no tranco, entre um pito e um trampo, satisfeito com o suficiente, feliz mesmo que inconsciente mais rico que o patrão...

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