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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

VAZA PERDIDA


 

Foi debaixo do mau tempo

que o maula se viu malito

pois peleava solito

já meio na água benta

porém bem de ferramenta

contrabando da Argentina

uma adaga de ponta fina

juntava beiço com venta

 

Cortava pelos dois lados

dois centímetros de largura

cinquenta de envergadura

do S até a ponta

a qual recebeu em conta

por uma de tantas lidas

sempre à mão mas escondida

pra o caso de alguma afronta

 

Era ligeirito o maula

magrela alto e melenudo

empafiado e topetudo

metia em tudo a colher

que nem flor de mal-me-quer

mudando a cor da coxilha

debochava numa encilha

se fresquiando pras mulher

 

Num baio Quarto de Milha

com cruza de Bororó

fazia forrobodó

quando tinha carreirada

chapéu de aba quebrada

e fumaceando um palheiro

passeava o parelheiro

dando sessenta por nada

 

Dava um dente por encrenca

se valendo da destreza

gostava de virar a mesa

quando a sorte não lhe vinha

e nos tambores de rinha

também fazia lambança

tendo certeza e confiança

no recheio da bainha

 

Era assim a diversão

do magrela melenudo

que se metia em tudo

e que um dia se deu mal

chegou bancando o bagual

como de sempre fizera

e topou com outro cuera

castelhano por sinal

 

Meia dúzia de ofensas

e olhares de cara feia

fedeu logo à peleia

entre dois da mesma linha

nenhum tirava farinha

mas num golpe bem cuiudo

vidrou os olhos o melenudo

com um balaço na pinha

 

Diz um velho ditado

que de tanto ir ao ninho

a raposa deixa o focinho

por se achar esperta na lida

e numa vaza perdida

um maula muito confiante

querendo levar tudo por diante

deixa pra trás sua vida

 

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