Foi debaixo do mau
tempo
que o maula se viu malito
pois peleava solito
já meio na água benta
porém bem de ferramenta
contrabando da Argentina
uma adaga de ponta fina
juntava beiço com venta
Cortava pelos dois lados
dois centímetros de largura
cinquenta de envergadura
do S até a ponta
a qual recebeu em conta
por uma de tantas lidas
sempre à mão mas escondida
pra o caso de alguma afronta
Era ligeirito o maula
magrela alto e melenudo
empafiado e topetudo
metia em tudo a colher
que nem flor de mal-me-quer
mudando a cor da coxilha
debochava numa encilha
se fresquiando pras mulher
Num baio Quarto de Milha
com cruza de Bororó
fazia forrobodó
quando tinha carreirada
chapéu de aba quebrada
e fumaceando um palheiro
passeava o parelheiro
dando sessenta por nada
Dava um dente por encrenca
se valendo da destreza
gostava de virar a mesa
quando a sorte não lhe vinha
e nos tambores de rinha
também fazia lambança
tendo certeza e confiança
no recheio da bainha
Era assim a diversão
do magrela melenudo
que se metia em tudo
e que um dia se deu mal
chegou bancando o bagual
como de sempre fizera
e topou com outro cuera
castelhano por sinal
Meia dúzia de ofensas
e olhares de cara feia
fedeu logo à peleia
entre dois da mesma linha
nenhum tirava farinha
mas num golpe bem cuiudo
vidrou os olhos o melenudo
com um balaço na pinha
Diz um velho ditado
que de tanto ir ao ninho
a raposa deixa o focinho
por se achar esperta na lida
e numa vaza perdida
um maula muito confiante
querendo levar tudo por diante
deixa pra trás sua vida
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