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sábado, 29 de julho de 2023

PANELA DE FERRO




Usei a panela cascuda
pra fazer um carreteiro

quem foi da lida não muda
os costumes de campeiro

Mesmo com esta aparência
tisnada pela fumaça
guardarás sempre a essência
por mais uso que eu te faça

Cavalgaste muito tempo
na anca dependurada
atada em rudes tentos
acompanhando as tropeadas

Tempo que ficou pra trás
de trempes fogo e braseiro
hoje num fogão a gás
te ajeito pra um carreteiro

segunda-feira, 17 de julho de 2023

VONTADE DE FICAR

Quando cheguei na tapera

ela me olhou com tristeza 

desprovida da beleza 

e do perfume de jasmim

o arvoredo e o jardim 

dava pena do abandono

e do velho cinamomo

que não se lembrou de mim 


Cabresteando a gateada

fiz a volta na tapera

lembrando como ela era

chorei silenciosamente 

depois voltando ao presente

dei um tiauzito pra ela

e um aperto na goela

me fez chorar novamente 


Então cruzei a porteira

busquei a volta da gateada

tristonho peguei a estrada

levando lágrimas no olhar

e a vontade de ficar

tomou conta deste cuera

que voltará à tapera

nem que seja pra chorar


quinta-feira, 13 de julho de 2023

NAMOREI A LUA


A boca da noite

me trouxe um beijo de luar

beijei a boca da noite

mesmo sem alcançar 


No céu da noite

o brilho do luar

no céu da minha boca

o beijo a orbitar


A lua me namorava

porque gostava de mim

mas o sol louco de ciúme 

no namoro pôs um fim

sábado, 8 de julho de 2023

TERREIRO DA SAUDADE

No terreiro lá de fora

a vassoura de carqueja 

dançava todas as manhãs 

era mais uma peleja

de muitas outras tarefas

que tinham minhas irmãs 


No terreiro lá de fora

tinha um pé de laranjeira 

onde os sabiás faziam ninhos

e uma frondosa figueira 

onde eu sorrateiramente 

negaçeava os passarinhos


No terreiro lá de fora 

tinha galinhas patos e gansos 

e um angico plantado

uma corda pra balanço 

a casa do meu cachorro 

e um cocho feito a machado


No terreiro lá de fora

tinha um antigo rebolo

para afiar as ferramentas 

tinha um forno de tijolo

e um taquaral bem fechado

pra o lado que vem tormentas


No terreiro lá de fora

tinha as minhas mangueiras 

que não tenho na cidade 

lá sobrevive a figueira 

e o tronco seco do angico 

palanqueando minha saudade