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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

E ASSIM TUDO SE ARRUMA

Foto de Giancarlo M. de Moraes

A vida é buena comigo,
não tenho nenhuma queixa.
Pela estrada que sigo,
o Patrão Velho não me deixa.

Saúde é uma fortuna,
família é o maior bem
e assim tudo se arruma,
com aquilo que se tem.

Nunca me faltou afeto,
me alegra ter filhos e netos,
prenda, mate e chamamé!

Enfim, sou um taura feliz,
da copa até a raiz,
vivendo com muita fé.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

SAUDADE E REVOLTA

Foto de Giancarlo M. de Moraes

Para onde foi a sanga,
que eu pescava com os guris,
joanas, carutes, lambaris,
trairinhas e jundiás,
no velho poço do “Angá”,
onde o banho era um retoço,
com a água até o pescoço
e onde eu aprendi a “nadá”?


Já não existe a pinguela,
daquele angico caído,
que tinha um galho torcido,
com um cipó enrolado,
onde os guris pendurados,
se faziam de artistas,
com façanhas malabaristas,
dando risadas e pelados.


Até o matinho dela,
que ia ao pé da coxilha,
onde eu cortava forquilhas
das pitangueiras e camboins,
em tudo deram um fim,
embebidos de ganância,
só ficando de herança,
saudade e revolta em mim!


Por que mataram a sanga,
não respeitando a coitada,
fonte de água abençoada,
que serpenteava lá fora?
Talvez a oferta de uns cobres,
promessa de enriquecer pobres,
que estão mais pobres agora!


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NO RUMO DA PULPERIA

Foto de Giancarlo M. de Moraes
Peguei o meu pingo zaino
no potreirinho dos fundos
encilhei em um segundo
e me mandei pra pulperia
há dias que não bebia
daquela caninha pura
que deixa uma criatura
reborqueando de alegria

Aproveitei a volteada
pra outras “cositas” mais
que não se deixa jamais
nem mesmo na quarentena
um carinho de morena
que sabe o que o taura gosta
quando a gente enrosca
a trança com a melena

Uma orelhada no truco
no qual sou bueno de fato
num quero e vale quatro
blefando em ladainha
e quando a fome apurrinha
roncando a volta da tripa
peço um vinho de pipa
com “guarda-freio” e sardinha

Nem vejo passar as horas
quando dou estas volteadas
e lá pela madrugada
vem um alerta do galo
relincha o meu cavalo
como quem diz “tá na hora”
e antes de ir embora
dou no copo o último pealo

Prossigo no outro dia
a rotina da semana
deixando de lado a cana
pra quando comichar a goela
daí eu cruzo a cancela
no rumo da pulperia
pra regular a pontaria
e retouçar com as donzelas

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

TIRÃO NO PEITO

Foto de Giancarlo M. de Moraes

Cada palanque da estrada,
que ia ficando pra trás,
era mais uma lembrança.
Até meu zaino puxava,
com toda força o ar puro,
um “recuerdo” da estância.

Meu cusco dei pro compadre,
apesar do sentimento,
mas não tinha outro jeito.
Cada torrão da estrada,
cada moita de capim,
era um tirão no meu peito.

Lá do alto da coxilha,
parei e olhei pra o rancho
e os olhos não aguentaram.
Vi o vulto do meu velho,
vi o arvoredo e a sombra
e senti que me acenaram.

Vou morar em outro pago,
vou viver noutra querência,
estou mudando o rumo.
Levo a confiança no braço
e a certeza na garupa,
que um dia destes me aprumo.

Virei a mala do avesso,
pra que a saudade ficasse,
na poeira da estrada,
mas ela é caborteira,
veio comigo sorrateira,
mesmo com a mala virada.

Por que a vida é assim?
Por que não dá pra ficar
e termos que ir embora?
Mas aceito e me conformo,
só em Deus ter permitido,
de eu ser cria lá de fora!