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Foto de Giancarlo M. de Moraes |
Dos dez
irmãos, o mais novo sempre foi o sortudo pra criação. Mal começou a caminhar,
já andava pelo terreiro com um cestinho, feito de palha de milho, atirando
grãos pra bicharada. Tinha certa preferência pelas polacas.
Galinha
que deitavam pra ele, não gorava um ovo. Leitoas cresciam e se tornavam porcas
criadeiras. Teve uma que deu tanto leitão que faltou teta pra os bichinhos
mamar. Aí é claro, teve que ser usada a velha mamadeira, que ele ajudava
segurar.
Quando
aprendeu a falar, batizava seus bichos, quase sempre com nome de pessoas, e se
a gente prestasse atenção, havia uma semelhança entre o bicho e o nome
escolhido.
No
aniversário do primeiro ano, ganhou dos padrinhos uma terneira salina, que a
vaca morrera no parto. Criada em volta da casa, mimada e
tratada a pão-de-ló, a Donzela causava inveja. Quando foi na hora da cria,
pariu duas terneiras.
Teve
uma galinha batizada por “Perdiz” que foi uma das suas preferidas. O ninho dela
era dentro do forno. Durante o choco ele atravessava uma tábua na entrada pra
os pintos não caírem lá de cima. De noite atava um cachorro no pé do forno pra
que as raposas não subissem no ninho.
Com
esta mesma sorte, foram crescendo, tanto ele como a criação. Era muito
interessado, cuidadoso e bom pros bichos. Ficava brasino se alguém judiasse dos
animais.
Tinha
muito tino pra negociar. Muitas vezes levou até ao ônibus que fazia a linha,
dúzias e dúzias de ovos pra vender. Além disso, trocava com os vizinhos galos,
patos, marrecos, pra mo de não refinar. Cansou de trazer barrascos cabresteados
por uma perna.
Sabia
onde ficavam todos os ninhos das galinhas que criava. Chegava até ter pretensão
de identificar os ovos das dele no meio dos outros.
Hoje,
casado, continua no mesmo tranco. O caçula parece que herdou do pai a índole do
São Francisco.