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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

... DO TEMPO



Há muitos anos estou aqui, mais de um século, no mesmo lugar. Enquanto muitos foram e voltaram, outros foram e não voltaram e outros nem foram, eu permaneço aqui.

Ouvi os gemidos da tua bisavó parindo teu avô, o choro e a reza das mulheres por causa das peleias com os castelhanos. Ouvi também os gemidos da tua avó “ganhando” teu pai; os da tua mãe, quando nasceste; da tua esposa, quando teu filho veio ao mundo e da tua nora dando a luz ao teu neto.

Sou do tempo que as honrarias eram conquistadas debaixo da fumaça, do tempo que pra tudo se tinha tempo.

Enfrentei tardes quentes, mormacentas... Madrugadas frias, de geadas macanudas, ventos, chuvas de pedra, raios e até o fogo já me chamuscou.

Vi pessoas, animais e árvores nascer e morrer. Conheci a fauna e a flora que não te alcançou. A culpa não foi minha.

Sei que estou velho. Um dia também serei recordado somente através dos retratos.

Porém meu filho, tu tiveste a sensibilidade de me causar uma grande alegria.  Obrigado por teres mandado reformar este velho casarão. As fotos de agora ficarão mais bonitas, porque até o ano em que nasci mandaste pintar na minha testa!



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