Da porteira até o capãozinho de mato a estrada era plana e fofa de areia. Dava mais ou menos uns trezentos metros de reta.
Fazia parte da lida dos guris, nas horas frescas do dia, passear os parelheiros como parte do apronte “pralguma” carreira logo depois das colheitas.
Era uma das tarefas que mais lhes despertavam o interesse, pois além de levarem como se fosse uma brincadeira, apesar da responsabilidade que tinham, também rendiam alguns trocados vez por outra.
Claro que meio as escondidas uma que outra carreirita mais acirrada com apostas cujos donos nunca ficaram sabendo, era debulhada em meio à poeira.
Um petiço gateado, batizado por Papatudo, dava sufoco ao resto da cavalhada. Conforme o peso que levasse no lombo as rapaduras, balas e até mesmo uns cigarros feitos, recheavam a algibeira da bombacha do “tratador”.
Dentre outros animais, destacava-se uma égua zaina, comprida, caneluda, meio desengonçada porém solta de pata que a gurizada batizou de Avestruz. Essa sempre deixou o Papatudo com as ventas cheias de poeira.
Numa manhã que a cerração levantou, os guris cabresteando a cavalhada seguiam rumo ao partidor pra mais um galope nos pingos quando um dos animais se empinou tomando o cabresto e cascou-se campo fora bufando e atirando as patas.
Cruzou por uma picada estreita no capãozinho, contornou um pequeno açude e voltou em direção à porteira. Um dos guris segurava os demais cavalos enquanto os outros dois corriam sem sucesso na busca do fujão.
Esbarrando na porteira, o cavalo deu alguns passos de volta, trocou orelhas, farejou o chão e foi aumentando o passo e quando chegou na estrada, mais ou menos onde era o partidor, embodocou-se e cascou-se a correr, sem sair dela.
Lá pelos duzentos e poucos metros foi diminuindo a corrida. Parou, virou a cabeça para trás, trocou orelhas de novo e por conta foi banhar-se no açude.