Sentado no recavém da
carreta com as pernas penduradas, o piá se “entertia” contando os rastros dos
bois que ficavam moldados na areia da estrada.
Vez por outra quando
algum dos bois estercava ele se preocupava contar quantos rastros eram
atingidos pela descarga intermitente, procurando não esquecer a conta pra ver o
próximo boi que aliviasse o mondongo, como dizia, venceria ou perderia na
quantia de rastros tapados.
O bodoque pendurado no
pescoço era seu inseparável parceiro, bem como a munição para o mesmo no bolso
da bombacha.
Sob a sombra da carreta,
o casquinho resfolegava. Por vezes dali saía pra farejar uma macega ou mijar no
pé do moirão. A carreta prosseguia, tendo o cusco que aumentar o tranco pra
voltar pra sombra. O piá achava engraçado o animalzinho correndo de língua de
fora e alternando a corrida ora em quatro, ora em três patas. Quando chegava
perto, balançava o rabo pitoqueado logo após o nascimento, o que fez que o
batizassem de Toquinho.
Na lavoura gorduchas melancias
e melões eram colhidos cuidadosamente e carregados até a carreta para no dia
seguinte engrossar a quitanda na beira da estrada principal, sob uma ramada de
taquaras e folhas de coqueiro. Ali permanecia junto ao avô até que o “sortimento”
fosse vendido.
O piá já era bastante
conhecido pelos passantes que dedicavam atenção e carinho por ser ele
destorcido, educado e bom de prosa. As melancias e melões deles eram as
melhores do planeta. Isso ele repetia para cada um que parasse para comprar. A gorjeta
não era contabilizada no montante da venda. Era o quinhão dele que depois
gastava no bolicho em rapaduras, balas, bolitas e alguma lembrancinha pra vó,
pra mãe e pra mana.
Já de volta ao rancho
contava as novidades da “viagem” e na hora de ir para a cama queria saber do
avô que dia iriam de novo, pois tinha visto algo lá no bolicho que não trouxera
porque a guaiaca d’uma hora pra outra, sem ele querer lhe faltou com os pilas.
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