O mesmo cenário.
No banco sob o umbu que
sombreava todo o lado leste do bolicho, aquele velho frequentador aposentado,
desde antes do meio dia somava tragos de cana pura
Seu cusco como sempre,
ficava deitado próximo ao cavalo palanqueado, cujo beiço inconsciente tremia
pelo impulso de um cochilo. O cusco também ressonava e alternava as espiadas
para o cavalo e o dono. Por vezes levantava a cabeça e aguçava as orelhas
quando ouvia um barulho de pratos ou quando os cuscos da casa farejavam à sua
volta.
Os outros fregueses, já
acostumados com a cena, chegavam e saiam sem dar muita atenção à figura
pitoresca, apenas zombavam que o pudim estava pronto.
Com suas pilchas em
remendos estirava-se contra a parede a falar como se alguém lhe fizesse
companhia. O matungo com as garras sobre o lombo exibia as costelas tais
teclados de gaitas pianadas, assim como as do cusco.
Mesmo sem ser
cumprimentado, ele dirigia um “buenas” ou um “te logo” para quem chegasse ou
saísse.
Seus lábios já demonstravam
um certo cozimento pelo álcool e as bochechas com barba rala, pareciam tomates
e os olhos moldurados por papuças com finas veias roxas.
Pai de dois filhos e uma
filha, que já trabalhavam na cidade, vivia com a esposa, que uma vez por semana
viajava para visitar a turma e levar uns agrados para os netos.
Quando a mulher estava
por casa, ele raramente aparecia no bolicho e não se demorava quando ia, apenas
fazia as compras e levava “combustível” pra beber em casa.
No período das “férias”
como dizia, tirava os dias para se empanturrar de trago, obrigando o cusco e o
cavalo a um jejum forçado.
Seu rancho virou tapera e
sua morada agora se resume num monte de terra com uma cruz sem inscrição, sob a
sombra de um umbu, num canto do cemitérinho, onde raramente passa alguém para
um “buenas” ou “te logo”.
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