Óculos quase escapando da ponta do nariz, o gato no colo, a cocota no ombro e o cachorrinho mimoso fazendo o chinelo de travesseiro eram seus companheiros. O velho roncava numa cadeira preguiçosa. Os cachorros dele ficavam do lado de fora.
Ela tirou a primeira gaveta do lugar e despejou tudo sobre a mesa. Começou a separar o útil do ocioso, ou melhor, catar, catar, ciscar...
Espantou o gato do colo para que a gaveta ali ficasse, pois devolvia para ela os objetos selecionados como aproveitáveis. O gato quando pulou para o chão, deu um tapa no cachorrinho e foi para o colo do velho que continuou roncando.
Lá fora os pintos abrigavam-se contra a casa, retesados como soldados na posição de sentido. Já por sua vez os patos, ou espanavam as penas ou chafurdavam as poças d’água.
E aquela senhora de “cocó” no cabelo, continuava a ciscar na gaveta que ia enchendo de novo. Instintivamente assobiava notas sem formar uma música.
O velho roncava, o gato no seu colo ronronava, o cachorrinho mudou a posição, agora já ocupando somente um chinelo e a cocota tentava imitar o assobio da velha.
E a gaveta engolindo novamente a quinquilharia.
Uma trovoada acordou o velho que atirou longe o gato e reclamou que já estava na hora do café, que apetecia bolo frito.
A velha continuou ciscando e a gaveta enchendo.
Agora a cocota subiu do ombro para o “cocó” do cabelo da velha e começou a catá-la e puxar com o bico a alça dos óculos. O gato tentava pular novamente no colo do velho que o afastava com as costas da mão.
Lá fora a chuva continuava, só que mais forte. Uma goteira iniciou a cadência sobre a cômoda, fazendo que o velho levantasse, a mando da velha, para colocar uma bacia aparando a água.
Voltou para a cadeira preguiçosa e continuava reclamando o café com bolo frito.
A goteira enchia a bacia e a velha de "cocó" enchia a gaveta.