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terça-feira, 8 de outubro de 2024

DESMANEADO


Quando a ânsia de guri
no meu peito corcoveia
substituo a maneia
por um bom par de esporas
e me vou cego pra fora
dando grito e manotaço
para levar um abraço
aos parceiros de outrora

E ao avistar a porteira
com a emoção me engasgo
mas logo me entusiasmo
e a alegria transcende
a ânsia se desprende
do palanque da saudade
pra se tornar liberdade
que quem é taura compreende

Chego de sorriso largo
como no tempo de moço
e um maragato no pescoço
que o vento cumprimenta
mas o chapéu se sustenta
nos tentos do barbicacho
e esqueço aquele diacho
que na cidade atormenta

Então livre da maneia
e calçado de esporas
gaudereio campo afora
como no sistema antigo
e pelo corredor prossigo
carregando os próprios passos
que me conduzem ao abraço
daqueles velhos amigos

terça-feira, 1 de outubro de 2024

PRA QUEM JÁ FOI DE GALPÃO


Fim de tarde chegando a hora 

da despedida do dia

boleia a perna a nostalgia 

pra matear no coração 

pois quem já foi de galpão 

e se muda pra cidade

morre e não mata a saudade

daquela vida de peão 


Saudade da faísca e da fumaça 

e da brasa viva no tição 

do calor do fogo-de-chão  

e da cambona chiadeira

do café de chaleira 

com uma boia de sal

que tinha gosto especial

ao rapar a frigideira 


Na querência da cidade

emalado então me sinto

e a alma tem o instinto 

de corcovear livremente 

e a ânsia num repente

meu sentimento cutuca

pra fugir da "aripuca"

que sujeita este vivente 


E com a nostalgia palanqueada

no tronco do coração 

encilho o chimarrão 

pra matear com as lembranças 

e aquele tempo da infância 

em um filme se apresenta

passando em câmera lenta

no qual me vejo criança