Páginas

Marcadores

sábado, 9 de março de 2013

NOSSO RECANTO



Foto própria 
Correndo pra chegar lá fora
a rédea guiava a mão
e a saudade na espora
cutucava o coração

Quando entrei na porteira
rezei tirando o sombreiro
tendo a paz por companheira
e o silêncio por parceiro

A natureza abriu os braços
senti dela o abraço
refrescando até a alma

Assim é nosso recanto
onde o astral eu levanto
e a saudade se acalma

quinta-feira, 7 de março de 2013

SEMPRE SE DÁ UM JEITO

Desenho prório
Dos botões da alpargata,
fiz um brinco pra prendinha
e duma tirinha de lata,
um passador pra trancinha.


De um vasinho de plástico,
tirei uma pequena flor
e com um fiozinho de elástico,
se tornou um prendedor.

Ficou faceira a prendinha,
pois era só aquilo que eu tinha,
pra lhe dar bijuterias.


Fiquei feliz e satisfeito,
pois foi assim que achei o jeito,
pra ela ter suas fantasias!

AROMA, ODOR E FEDOR


TRÊS GÊMEOS QUE VISITAM NOSSO OLFATO.

O AROMA VEM DO CAFÉ,

O ODOR DO ZORRILHO, PARECIDO TAMBÉM É

E UM FEDOR QUASE IGUAL,

VEM DO PEIDO DE UM BAGUAL.

QUEM CONHECE ESSES IRMÃOS,

TENHO CERTEZA QUE ME DARÁ RAZÃO!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

... DOS RASTROS

Foto própria


A carreta carregada
pelo corredor se foi
seguindo o garrão do boi
ficando o rastro na estrada

No mesmo rastro das patas
o da carreta por cima
como sendo a estima
pra rechaçar as bravatas

Assim ia o carreteiro
deixando seu rastro primeiro
chamando do coice a ponta

Picana não mais existe
carretear é um rastro triste
que nas estradas não se encontra

sábado, 23 de fevereiro de 2013

...DOS CAFÉS

Foto própria
Hoje comi um pão de casa,
como há tempos não comia,
lambuzado na chimia,
feitio próprio da minha china.
Com o leite da brasina,
deixei o café tordilho
e enfeitei o pão-de-milho,
com uma nata por cima.

Corria água da boca,
com aquele sabor campeiro
e o meu “eu” por inteiro,
teve ao passado um retorno,
ao sentir o cheiro morno,
enquanto o pão assava,
vi mamãe varrendo as brasas,
junto à boca do forno.

Daquelas manhãs e tardes,
tenho saudade e lembranças;
dos cafés na vizinhança,
com um gosto hospitaleiro,
do forno lá no terreiro,
feito de barro e tijolo,
me vindo agora o consolo,
no cheiro do pão caseiro!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

GAÚCHO GROSSO

de honestidade,
de simpatia,
de lealdade,
de alegria,

de paciência,
de amizadade,
de transparência,
de humildade.

Quem não tem estas grossuras,
não pode se dar ao luxo,
de ser boa criatura
e por certo, um gaúcho!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"QUINTO MISTÉRIO DOLOROSO"

Pois pra fora, as homenagens aos mortos são feitas através de terços, isto é, uma determinada pessoa puxa a reza, ou na igreja, salões comunitários ou mesmo na ex-residência do falecido.

É um costume tradicional antigo a reza de terço por um leigo, já que as missas eram raras, motivadas pela dificuldade dos padres que tinham um grande território para atender.

Dia destes, fui convidado para um terço de três meses de falecimento de uma vizinha lá de fora que era dona de um bolicho. Pessoa muito bondosa e compreensível com os fregueses, principalmente com os borrachos.

O evento foi realizado à sombra de um “Angazeiro” no terreiro em frente ao bolicho.

Quando cheguei ao local, havia um considerável número de vizinhos e entre eles é claro, os borrachos, já com a goela lubrificada e aquele característico olhar de mormaço.

A pessoa credenciada para rezar, solicitou que levantássemos e deu início, pedindo que todos fizessem o sinal da cruz.

Tudo transcorrendo normal, com pais-nossos, ave-marias, glórias, etc...

Já encerrando o terço, num silêncio e concentração absoluta, foi anunciado o quinto mistério:

- “Contemplemos o doloroso trajeto de Jesus carregando a cruz até o alto do Monte Calvário”.

Antes que fosse iniciado o pai-nosso, um dos borrachos exclamou com voz alta e enrolada:

- Bah! Pobre vivente.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A VOLTA DA CHUVA

Foto de Giancarlo M. de Moraes
Levantei fui pra janela,
para ver a bomba d’água,
pois a seca andava braba,
a chuva mudara o rumo,
o campo tava lobuno
não tinha pasto pra o gado,
o açude já torrado
água escassa pro consumo.

A terra exalou o cheiro
parece soltando o mofo,
a criação num alvoroço
naquele final de dia,
a piazada na folia
fazendo uma baita zoeira,
se banhando na goteira,
que do santa-fé escorria.

A chuva ia molhando
a melena do meu rancho,
eu ali como um carancho,
que fica rondando a presa,
apreciava a natureza
que se banhava faceira,
no barranco uma cachoeira
e na valeta a correnteza.

O dia se foi pra o berço,
chegou a noite molhada,
com a capa preta encharcada
e o chapéu bem desabado,
um ventito mui safado,
que veio por baixo dela,
assobiou na minha janela
pra ver se eu estava acordado.

Deitei ouvindo as trovoadas
que iam se distanciando,
o sono veio chegando,
fiz a oração costumeira,
dei um beijo na parceira,
assim já meio dormindo
e chegou um sonho lindo
na garupa da goteira!

domingo, 27 de janeiro de 2013

RECADO PARA A CHUVA

Desenho de Felício Agostini Lampert



Passava das duas e pouco da noite quando as rajadas do vento norte começaram dar “trompadas” em tudo, fazendo aquele reboliço característico quando ele passeia pelo pago.
Uma folha de zinco com uma das pontas soltas que fazia contraponto com a porta do galpão, presa só numa dobradiça, fez com que o peão levantasse pra dar um jeito. Atou a porta com um ajoujo, porém o zinco, deixou para quando o dia clareasse.

Cansado, deitou-se novamente, mas mesmo tapando a cabeça não conseguiu firmar o sono.

O vento alternava suas rajadas entre fortes e fracas, às vezes parecendo ter-se ido, mas bufava novamente balançando tudo.

O sol penetrando por uma janela entreaberta trouxe o dia a cabresto. Nesta hora o peão já chimarreava, “entertido” com a dança das labaredas provocadas pelo vento que se espremia pelas frestas da parede e por baixo da porta, fazendo a poeira entreverar-se com a fumaça, numa dança rebojada em um dos cantos do galpão.

Lá no terreiro, os galhos quebrados pareciam se agarrar uns aos outros, amontoados contra a cerca da horta. O mais, tudo voara em direção ao sul, menos a folha de zinco que lá da “cunheira” continuava abanando, como pedindo socorro.

Mais dois dias ainda, o vento continuará, amainando um pouco com o sol que lhe puxa o freio e se aproveitando do escuro da noite para junto com os mitos fazer esparramo e depois levar o recado para a chuva que o passeio dele terminou e chegou a hora do passeio dela.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

HERANÇA

Esta vontade de amar o pago
é a herança de um antigo Rio Grande
correndo forte nas veias farrapas
purificando o meu próprio sangue

Esta vaidade de andar pilchado
me foi passada por meus ancestrais
indumentária que identifica
não sendo apenas vestes ornamentais

Esta coceira que me dá na sola
é uma sarna que herdei das bailantas
escaramuçando e sovando as botas
e calejando a anca das percantas
 
Esta ânsia que rói o meu peito
é um calor herdado d'alguma paixão
há muito tempo arrinconada em mim
vício danado qual o chimarrão

Esta paz que habita meu rancho
é uma dádiva do Patrão do Céu
e agradeço quando dobro o joelho
falando com Ele tirando o chapéu