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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A ÂNSIA NAS ESPORAS

Foto de Giancarlo M. de Moraes

Garroneando meu picaço
me fui pela estrada afora
na ânsia por teu abraço
antes de tu ir embora

A brisa da noite calma
me trazia teu perfume
fazendo brilhar minh’alma
no piscar de um vagalume

As estrelas me seguiam
e lá do alto diziam
corre que a prenda é tua

Por mais que eu usasse a espora
não pude chegar na hora
e minha ânsia continua



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

EU E O VENTO

Foto de Giancarlo M. de Moraes

Comichou a minha goela,
quando olhei para o pinho,
num fim de tarde de outono.
Tomei um trago cuiudo,
abri o peito com tudo,
na sombra do cinamomo.

Me senti dono do mundo,
cantando a céu aberto,
enquanto o sol ia embora.
No lusco-fusco a Boieira,
veio ser minha parceira,
brilhando na minha espora.

Lá no mato dava o eco,
parecendo outro cantor,
com a mesma fibra e talento.
E pra laçar um coração,
trancei as cordas do violão,
como se fossem seis tentos.

Mais um trago mais um verso,
tantos  “recuerdos” de amores
e outros tantos de paixões.
Aí o vento assobiou
e no “más” acompanhou,
noite adentro minhas canções.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

SANGUE NOVO


Foto de Giancarlo M. de Moraes


Sou piá e não renego,
minha raça e procedência.
Sou filho de uma querência,
que é obra do criador.
Sou pequeno e de valor,
sou gaúcho cem por cento,
tamanho não é documento,
sou gaúcho, sim senhor!

Esta figura de miúdo,
traz esperança e coragem,
estampando na imagem,
o futuro do meu pago.
Plantarei todas que trago,
nas verdejantes coxilhas,
as sementes farroupilhas,
que brotarão a lo largo.

Tenho aprendido muito
e muito tenho a aprender.
Nunca é demais o saber,
para uma mente sadia.
Não faz bem a rebeldia,
nem pra piá, nem pra marmanjo,
na obediência me arranjo,
sou guri de boa cria!

Mesmo sendo um piá,
já tenho meus ideais,
de enaltecer mais e mais,
minha gente e meu povo,
meus ancestrais sempre louvo
e ainda serei legenda,
qual um herói das contendas,
na seiva de um sangue novo!

sábado, 20 de outubro de 2012

BEM-TE-VI

Foto própria


Bem-te-vi, bem-te-vi
me acordei e te ouvi
bem-te-vi, bem-te-vi
teu canto é bem assim
bem-te-vi, bem-te-vi
cantaste cedo pra mim

Estão te correndo do campo
e isto me causa pena
te ver aqui na cidade
em pára-raios e antenas

Pouco lugar para o ninho
escasso o teu sustento
não sei se cantas ou choras
se é alegria ou lamento

Bem-te-vi, bem-te-vi
voas daqui para ali
bem-te-vi, bem-te-vi
guarda o bodoque guri

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

...DAS CARRETAS - II

Foto de Giancarlo M. de Moraes

A fumaça do palheiro,
numa baforada se foi
e um grito de “êra” boi!
Se mandou junto com ela
e a prenda lá da janela,
atirou um beijo doce,
como se o beijo fosse,
o próprio coração dela.

Um aceno de chapéu,
correspondeu ao carinho
e o carreteiro sozinho,
some na curva da estrada
e da carreta pesada,
fica na areia o rastro,
qual dois carinhosos braços,
estendidos para a amada.

Serão dias longe dela,
contando a ida e a volta,
tendo a saudade de escolta
e a ânsia usando a espora,
pra que chegue então a hora,
daquele abraço na china,
preludiando uma noite divina,
a se findar com a aurora!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

UM DIA NO CAMPO


Foto de Giancarlo M. de Moraes

Um arreio cinchado,
um cavalo garboso
e um peão decidido
se manda pra lida.
Um relho no pulso,
os cachorros vão juntos,
um sol clareando
mais um dia na vida.

O laço no tento
aguarda o comando,
pra buscar um toruno
que se mandou a la cria,
o cavalo é campeiro
o peão é matreiro,
vai levando na rédea
o boca macia.

Num cano de bota
preso no arreio,
cheirando bem forte
vai o “creolim”.
Recorre invernadas,
bixeiras curadas,
o gado sadio remoe o capim.

De volta pras casas,
no mas desencilha,
o cepo lhe espera
no velho galpão,
o zaino espumando,
suado e inquieto,
um tição fumaceia
num fogo de chão.

A cambona chiando
pronta pro amargo,
na cuia erva buena
enfeita o porongo
e uma canha da pura
refresca a guela
num trago bagual
de arrepiar o lombo.    

Mateando repassa
no seu pensamento,
lidas e amores,
passado e presente,
neste devaneio,
no sabor do mate,
a saudade queima
como a água quente.

A lida campeira é coração e alma,
o berro do gado uma melodia
rancho, prenda, arreios, cavalos
também fazem parte desta sinfonia.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

VIDA MANSA

Foto própria



As rodilhas do meu laço,
estão sovadas da lida
e a força do meu braço,
vai sustentando minha vida.


Tenho fé no Criador,
que protege minhas andanças.
Tenho paz e tenho amor,
tranquilito, vida mansa.


Meu rancho é abençoado
e de carinho recheado,
bem humilde como eu.

No aconchego profundo,
vivo feliz neste mundo,
com a prenda que Deus me deu!