Passava um pouco do meio dia. O sol tinia de quente. Um dos cachorros deu um avanço. Olharam pela janela e viram que despontava na estrada um carroção de quatro rodas, coberto por uma tolda de pano e puxado por dois cavalos “lazão” malacara.
Era
conduzido por um homem claro, de chapéu com abas pequenas e a copa redonda.
Usava óculos e botas estilo caipira e falava com sotaque de estrangeiro.
Parou na
estrada em frente à porteira, levantou-se do banco tirou o chapéu e pediu
licença.
- Vai lá
guri, abre a porteira, manda o homem passar e leva o carroção pra sombra das
taquareiras, disse o pai.
O guri
foi. O homem apeou, se dirigiu pro lado da casa, onde o dono esperava.
Ao
conduzir o carroção pra sombra, o guri viu que sentado no recavém, com as
pernas dependuradas, vinha um bugre velho. Ajudou desatrelar os cavalos e
alcançando um porongo, cortado em forma de tigela, pediu água, depois deitou
num vão entre as taquaras.
O dono do
carroção sentou-se à sombra, tirou um lenço pra enxugar a testa e comentou
sobre o calor.
Perguntado
se já havia almoçado, disse que sim. O dono da casa ainda perguntou de onde ele
viera e ele disse: de muito longe!
- Aceita
um mate?
- Não, só
um pouco de água.
Entre um
gole e outro, o homem perguntou se a família era grande.
-Eu, a
mulher, este guri, aquela pequena que está agarrada no vestido da mãe e (depois
de um pigarro e olhar tristonho continuou) uma menina moça que está muito
doente lá no quarto. Trouxemos ontem do hospital, desenganada.
- O que
houve?
- Sabe o
senhor? Quando veio as “regra” ela tomou banho na água fria da fonte, enquanto
lavava roupa. De lá pra cá, nunca mais se afirmou.
O homem
pediu pra ver a mocinha. Depois foi no carroção e voltou vestido com um roupão
branco e uma maletinha na mão. Mandou que todos fechassem os olhos e que
tivessem muita fé. Só era pra abrir os olhos quando ele mandasse. Assim foi
feito.
Não
lembram os minutos que ficaram de olhos fechados e nem viram o que foi feito.
Lembram de que tudo ficou no mais absoluto silêncio.
O homem
voltou no carroção, tirou o roupão e veio pra sombra. Pediu que nada fosse
falado no que havia acontecido minutos atrás
e que só fossem no quarto da mocinha, depois que ele fosse embora.
Continuou falando apenas de coisas comuns, por mais um tempo.
Assim a
tarde foi passando, até ele pedir que atrelassem os cavalos pra ir mais
adiante.
Foram até
a porteira com ele, porém o guri notou a falta do bugre. Intrigado, indagou ao
homem: o bugre não vai junto? Ele respondeu que o bugre quando foi chamá-lo,
disse que há muito tempo morava ali.
A roda do
carroção desquinou o barranco deixando a descoberto um caco de panela de barro.
Quando
voltaram pra dentro de casa, a mocinha caminhava pela casa como antes da
doença.
Na
vizinhança ninguém viu o carroção passando pela estrada.
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