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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A DO MEIO

Foto de Gilberto Moraes Jr.



 Quando o capataz se aposentou por força da lei, eu tava ali ali pra ir pro quartel. 

Seu Mulato, cedeu a vaga pra um sobrinho, que veio de muda com a família.

O novo capataz, a exemplo do tio, era homem pra toda a lida. Logo foi conquistando o pessoal da casa. Campeiro era ele. Tinha três potrancas crioulas, por sinal, um privilégio da morfologia, mas a do meio...!!! Boa de encontro, anca larga, crinuda e tudo mais o que agrada. 

Me apaixonei de vereda. Era uma e duas e eu tava montando, às vezes em pelo, outras apenas um pelego me forrava os joelhos. Nunca usei buçal nem freio, a boca sempre livre.

Chegou num ponto que o novo capataz falou pro meu pai pra que eu saísse uns dias e talvez encontrasse uma que combinasse mais comigo, que fosse registrada e tals.

Bueno, pra encurtar a história, fui para o quartel e na primeira carta que mamãe me escreveu disse: meu filho, temos novidade, o novo capataz falou pro teu pai que sabia que a intimidade tua com a guria do meio ia resultar em cria.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

INQUIETUDE





O sol rachando de quente
nenhuma nuvem no céu
cruza na estrada um vivente
sombreado pelo chapéu

Ligeirito segue em frente
qual um soldado marchando
é a inquietude do vivente
que sobrevive changueando

Vai o verão vem o outono
o inverno e a primavera
ora operário ora colono
ora tenteando na espera

A idade arca no lombo
e a força foge dos braços
e entre tropeços e tombos
perde o rumo dos passos

Quando a sombra da morte
lhe envolver com seu véu
talvez ache seu norte
numa estrada pra o céu

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

MENSAGEM


O Ano Novo ficará velho,
assim como o velho foi novo,
que tudo que não foi bom não volte
e o que foi bom venha de novo!

domingo, 12 de janeiro de 2020

O RIO GRANDE NO GALPÃO

Foto de Jorge Luiz Laranjeira

Braseiro, espeto, sal
e uma ponta de peito,
pra ninguém botar defeito,
nem criticar o ritual,
um trago ao natural
no bico de um borrachão,
a cuia de chimarrão
no sentido anti-horário,
está o Rio Grande Lengendário
convivendo em meu galpão.

Uma prosa, um lembrete,
cantoria e pacholeio,
um rebenque no esteio,
junto as esporas de um ginete,
um basto no cavalete
sob os pelegos e o xergão,
e o calor do tição,
neste campeiro cenário,
aquece o Rio Grande Legendário
no interior do meu galpão.

Recuedos de quem foi moço,
na tisna do picumã,
o renascer das manhãs
no café com a água do poço,
lenço atado ao pescoço,
e firmeza no garrão,
o culto à tradição,
num costume voluntário,
é o Rio Grande Legendário,
morando no meu galpão.