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sábado, 20 de outubro de 2012

BEM-TE-VI

Foto própria


Bem-te-vi, bem-te-vi
me acordei e te ouvi
bem-te-vi, bem-te-vi
teu canto é bem assim
bem-te-vi, bem-te-vi
cantaste cedo pra mim

Estão te correndo do campo
e isto me causa pena
te ver aqui na cidade
em pára-raios e antenas

Pouco lugar para o ninho
escasso o teu sustento
não sei se cantas ou choras
se é alegria ou lamento

Bem-te-vi, bem-te-vi
voas daqui para ali
bem-te-vi, bem-te-vi
guarda o bodoque guri

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

...DAS CARRETAS - II

Foto de Giancarlo M. de Moraes

A fumaça do palheiro,
numa baforada se foi
e um grito de “êra” boi!
Se mandou junto com ela
e a prenda lá da janela,
atirou um beijo doce,
como se o beijo fosse,
o próprio coração dela.

Um aceno de chapéu,
correspondeu ao carinho
e o carreteiro sozinho,
some na curva da estrada
e da carreta pesada,
fica na areia o rastro,
qual dois carinhosos braços,
estendidos para a amada.

Serão dias longe dela,
contando a ida e a volta,
tendo a saudade de escolta
e a ânsia usando a espora,
pra que chegue então a hora,
daquele abraço na china,
preludiando uma noite divina,
a se findar com a aurora!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

UM DIA NO CAMPO


Foto de Giancarlo M. de Moraes

Um arreio cinchado,
um cavalo garboso
e um peão decidido
se manda pra lida.
Um relho no pulso,
os cachorros vão juntos,
um sol clareando
mais um dia na vida.

O laço no tento
aguarda o comando,
pra buscar um toruno
que se mandou a la cria,
o cavalo é campeiro
o peão é matreiro,
vai levando na rédea
o boca macia.

Num cano de bota
preso no arreio,
cheirando bem forte
vai o “creolim”.
Recorre invernadas,
bixeiras curadas,
o gado sadio remoe o capim.

De volta pras casas,
no mas desencilha,
o cepo lhe espera
no velho galpão,
o zaino espumando,
suado e inquieto,
um tição fumaceia
num fogo de chão.

A cambona chiando
pronta pro amargo,
na cuia erva buena
enfeita o porongo
e uma canha da pura
refresca a guela
num trago bagual
de arrepiar o lombo.    

Mateando repassa
no seu pensamento,
lidas e amores,
passado e presente,
neste devaneio,
no sabor do mate,
a saudade queima
como a água quente.

A lida campeira é coração e alma,
o berro do gado uma melodia
rancho, prenda, arreios, cavalos
também fazem parte desta sinfonia.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

VIDA MANSA

Foto própria



As rodilhas do meu laço,
estão sovadas da lida
e a força do meu braço,
vai sustentando minha vida.


Tenho fé no Criador,
que protege minhas andanças.
Tenho paz e tenho amor,
tranquilito, vida mansa.


Meu rancho é abençoado
e de carinho recheado,
bem humilde como eu.

No aconchego profundo,
vivo feliz neste mundo,
com a prenda que Deus me deu!

sábado, 29 de setembro de 2012

O PEÃO E AS ESTRELAS




Foto de Gilberto Moraes Jr.


A noite era tão calma quanto clara.

O peão, após ter passado o dia na casa da namorada, retornava para o rancho, “a pézito no más”, por um atalho através campo.

Caminhava “entertido” com a própria sombra que a lua cheia fazia projetar sobre suas botas. Às vezes atirava o chapéu uns metros a sua frente, acompanhando o encontro dele com a sombra no chão, repetindo várias vezes.

O latido distante de um cachorro quebrou o silêncio, pressentindo que alguém transitava pelo campo.

Contornando um capão de mato, seguiu por um trilho do gado que cortava a coxilha limpa de onde pode ver o céu com toda sua grandeza e milhões de estrelas povoando aquela invernada de propriedade do Patrão Maior.

Contemplando as estrelas, imaginou em dar uma de presente para a sua prenda.

Mais uma quebra do silêncio. Desta feita, um casal de quero-queros o trouxe de volta ao caminho. As aves revoavam dando rasantes sobre ele, enquanto se valia do chapéu para espantar o casal que por certo defendia o ninho.

Após mais uns passos, tornou a olhar as estrelas, vindo novamente o pensamento de presentear a prenda. Mas qual das estrelas conseguiria dar? Todas eram dignas de um presente.

No seu devaneio continuava caminhando e olhando para o céu.
  
Ao chegar na porteira do seu rancho, a lua lhe dava boas vindas e ele olhando para trás, viu quando uma estrela se desprendeu deixando um rastro luminoso escondendo-se na coxilha por onde ele havia passado.

No decorrer da semana, um guri a cavalo foi lhe entregar um bilhete da sua prenda, no qual dizia ter sonhado com ele chegando na casa dela, montado num lindo cavalo, repontando uma estrela cadente.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A ÂNSIA DE UM ENCONTRO

Foto de Giancarlo M. de Moraes



Lá fora, as moradas não são muito próximas. A vizinhança é bem espalhada. Um rancho cá, outro acolá e assim se vai.

Fazendo parte deste cenário, dois ranchos eram separados por um rio e um mato que era pouco mais que um capão.

Numa das moradas, havia um cachorro, que por sua “brabeza”, ficava sempre atado. Já nem sabia quanto tempo vivia assim. Na morada do outro lado do rio e encoberta pelo mato, também atada, uma cadela passava sua vida.

Apesar de nunca terem se visto, os dois se namoravam à distância, através de apaixonados latidos e quando em vez, o faro do cachorro aquecia com a febre do cio.

A ânsia de um encontro já durava um bom tempo, porém a chance era quase impossível, uma vez que seus donos não se descuidavam, e soltá-los, jamais.

Certa tarde, o cachorro sentiu sede e foi até o cocho, onde sempre costumava beber. Nenhum pingo de água encontrou. Avistou mais afastada, uma gamela transbordando. A corrente o impedia de chegar até ela. Forçou, forçou e de repente a coleira cedeu e ele, quase não acreditando, viu-se solto.        

O sol recolhia seus últimos raios e o lusco-fusco se colocou entre o dia e a noite.

Afoito, o cachorro sorrateiramente foi se distanciando do seu rancho em direção à morada de sua amada. Seu coração corria mais que ele. Botou o peito n'água, atalhou pelo mato e ao sair dele, já era mais noite do que dia.

Cauteloso foi se aproximando cada vez mais daquela que tanto lhe correspondeu. Mais uns passos e divulgou o vulto de uma pessoa e junto a ela a cachorra, que sem dúvida era o amor de sua vida.

Levado pela emoção descuidou-se ao pular uma valeta, provocando um barulho, fazendo com que a pessoa o notasse, sendo confundido com um cachorro comedor de ovelhas.

Um revólver desferiu certeiro tiro na cabeça, deixando o pobre animal ali no cavaco.

Quando o peão aproximou-se para se certificar de que matara o cachorro, a cadela foi junto. Ele estava realmente morto, nem agonizou.

O peão o reconheceu e viu que havia cometido um engano e retirou-se abichornado.

A cadela alheia ao acontecido, cheirou o cachorro morto e acompanhou o peão de volta ao rancho.


TERAPIA DO GALPÃO

Desenho de Felício Lampert
Boleia a perna parceiro
e senta para um amargo
contar causo e tomar trago
fumaceando um palheiro
enquanto vai no braseiro
se  aprontando a costela
passa o tempo na janela
levando a história consigo
eu vou proseando contigo
também somos parte dela

Neste rancho te arrincona
como se estivesse em casa
pois sempre tenho na brasa
água quente na cambona
um violão e uma cordeona
pra canto e poesia
sendo a melhor terapia
no aconchego do galpão
rondando o fogo-de-chão
seja noite ou seja dia

Por isto meu amigaço
meu rancho não tem tramela
e sempre abro a cancela
pra quem vier trazer um abraço
e com uma trança de laço
feita com amizade e zelo
cerro a armada em qualquer pêlo
num tiro que pacholeio
e trago pra o meu rodeio
tendo a sinceridade por sinuelo

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ORGULHO DE UMA RAÇA




Sempre acordo mais gaúcho,
dia vinte de setembro
e orgulhoso relembro,
os feitos de uma raça,
que debaixo da fumaça,
demonstrou como se vence,
criando a República Riograndense,
peleando e fazendo graça!

sábado, 15 de setembro de 2012

ROSILHA

Foto de Marcus Vinicius M. de Moraes

O narrador chamou seu nome
dando sequência a planilha
o xiru cutucou a rosilha
pediu que soltassem o boi
levantou o laço na pista
o zebu tal qual faísca
enroscou a cola e se foi

A rosilha já aprendeu
o que fazer nesta hora
não precisou de espora
correu com pata folgada
na hora certa se abriu
o laço da mão partiu
e deu bandeira colorada

"O laço se estendeu
entre a argola e a presilha
cerrou sem pegar orelha
mas que florão de rosilha"

Bem calçado no estribo
sentado firme no arreio
cada corda é um floreio
e dez pontos na planilha
mostrando que braço é braço
em cada tiro de laço
e a confiança na rosilha



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

ACHO JUSTO

Foto de Marcus Vinicius M. de Moraes

Depois de um rodeio bagual,
numa tarde de domingo,
na calma água do açude,
mato a sede do meu pingo.


Primeiro eu trato dele,
pois não merece castigo,
depois que prendo na cocheira,
que me preocupo comigo!