Foto de Giancarlo M. de Moraes
Lá fora, as moradas não são muito próximas. A vizinhança é bem espalhada. Um rancho cá, outro acolá e assim se vai.
Fazendo parte deste cenário, dois
ranchos eram separados por um rio e um mato que era pouco mais que um capão.
Numa das moradas, havia um
cachorro, que por sua “brabeza”, ficava sempre atado. Já nem sabia quanto tempo
vivia assim. Na morada do outro lado do rio e encoberta pelo mato, também
atada, uma cadela passava sua vida.
Apesar de nunca terem se visto,
os dois se namoravam à distância, através de apaixonados latidos e quando em
vez, o faro do cachorro aquecia com a febre do cio.
A ânsia de um encontro já durava
um bom tempo, porém a chance era quase impossível, uma vez que seus donos não
se descuidavam, e soltá-los, jamais.
Certa tarde, o cachorro sentiu
sede e foi até o cocho, onde sempre costumava beber. Nenhum pingo de água
encontrou. Avistou mais afastada, uma gamela transbordando. A corrente o
impedia de chegar até ela. Forçou, forçou e de repente a coleira cedeu e ele,
quase não acreditando, viu-se solto.
O
sol recolhia seus últimos raios e o lusco-fusco se colocou entre o dia e a
noite.
Afoito, o cachorro
sorrateiramente foi se distanciando do seu rancho em direção à morada de sua
amada. Seu coração corria mais que ele. Botou o peito n'água, atalhou pelo mato
e ao sair dele, já era mais noite do que dia.
Cauteloso
foi se aproximando cada vez mais daquela que tanto lhe correspondeu. Mais uns
passos e divulgou o vulto de uma pessoa e junto a ela a cachorra, que sem
dúvida era o amor de sua vida.
Levado pela
emoção descuidou-se ao pular uma valeta, provocando um barulho, fazendo com que
a pessoa o notasse, sendo confundido com um cachorro comedor de ovelhas.
Um revólver
desferiu certeiro tiro na cabeça, deixando o pobre animal ali no cavaco.
Quando o
peão aproximou-se para se certificar de que matara o cachorro, a cadela foi
junto. Ele estava realmente morto, nem agonizou.
O peão o
reconheceu e viu que havia cometido um engano e retirou-se abichornado.
A cadela
alheia ao acontecido, cheirou o cachorro morto e acompanhou o peão de volta ao rancho.
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