A antiga estrada barrancosa guarda no seu leito, a lembrança do vai e vem de carretas, de piás em seus petiços rumo à venda ou à escola, de mulheres com suas sombrinhas e miúdos ao colo, nas tardes quentes, para rezar os terços dos falecidos, da aranha que conduzia parteira levando a cegonha, de tauras bem encilhados pacholeando, indo ao encontro das prendas ou para um comércio de carreiras. Enfim, até mesmo dos cuscos.
O coqueiro que lhe
empresta o nome continua esguio, resistindo às investidas das tormentas, agora
sem o emaranhado de pauzinhos do ninho das “caturras”.
A timbaúva quase
centenária, palco das sesteadas, espichou seus tentáculos sobre o vão do leito
quase coberto de pés de vassouras e caraguatás, alcançando o outro lado,
cutucando a tabatinga do barranco vermelho/amarelado, de onde o pá habilidoso
raspava o barro nos dias de chuva para moldar vaquinhas, cavalinhos, bonecos
para a mana...
Alguns pés de cambarás
ainda debruçam seus galhos sonolentos projetando sobra rala. Uns e outros tocos
que foram um dia palanques de lei e mirantes de corujas despontam nas macegas,
qual dentes quebrados pelos desastres do percurso nas churrascadas da vida.
As cargas de bagaço da
cana moída, as quais entupiam as valetas da erosão, não fazem mais parte do
cenário daquele hoje velho caminho vicinal.
Os joãos-de-barro buscam
a matéria prima para construção dos ranchos em outras barreiras. Um tatu “macaieiro”,
fez sua toca no emaranhado de raízes das aroeiras, num dos barrancos e mora por
lá vizinhando com um lagarto, visto que a cachorrada já não é mais aquela de
faro aguçado e buena de canela.
À noite, o vento, único
transeunte, percorre a velha estrada. Tal como o carreteiro do passado, assobia
uma canção sem início, sem meio e sem fim.
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