A morada era um tanto mais velha que o dono. A casa de pedra ainda resistia às açoitadas do tempo, o dono já nem tanto, mas ia levando entre chás e comprimidos.
O velho não usava mais esporas e se apoiava num bastão. O galpão tinha escoras e suas paredes perderam as janelas, enquanto as roupas do velho ganharam remendos. O velho usava chapéu, porém da quincha do galpão restavam alguns fiapos de capim santa-fé.
Na casa só não caducavam as pessoas que permaneciam penduradas nas molduras dos retratos amarelados tal o bigode do velho, tisnado pela fumaça do palheiro.
A manivela do poço aposentou-se, dando o lugar para uma bomba manual que a ferrugem a cada dia ameaçava seu fim. A água continuava fresca e cristalina, regando a cambona, a qual o braço do velho mal podia segurar e a mão trêmula enchia o mate, companheiro desde que começou trocar a voz.
Do arvoredo, apenas algumas laranjeiras que ainda teimavam em dar frutas, no entanto a faca do velho não as descascava mais.
Nos esteios do alpendre apenas pregos enferrujados lembravam o lugar das folhagens robustas que pendiam suas tranças, onde muitos colibris penduravam seus ninhos e permaneciam de sentinelas na guarda de minúsculos ovos.
A porteira foi aos poucos sendo roída pelas intempéries e a cárie broqueando os dentes do velho, escapando apenas as duas presas de ouro.
O destino do velho foi de ficar bem velho e assim continua num túmulo que o tempo vai esfarelando, lentamente, onde a cruz de madeira com seu nome, já morreu.
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