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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

FIGURAS NO CÉU

      
      



Foto de Gilberto Moraes Junior
Depois do almoço, a gurizada foi sestear no assoalho da carreta à sombra do tarumã.

As nuvens brancas povoavam o céu azul, qual um rebanho de ovelhas. Aos olhos dos guris elas iam formando figuras conforme o vento moldava. Cavalos, leões, gatos, coelhos, velhos, papai noel, patos, árvores, ursos e ovelhas, é claro, além do que a imaginação de cada um identificava.

Dentre os “sesteadores” havia um rabugento chato, que não concordava com o achado dos outros e forçava que concordassem com o que ele descobria. Se um visualizava uma cabeça de leão, ele teimava que era uma cabeça de macaco.

A brincadeira conjunta terminou para ele quando foi expulso da carreta para que fosse sestear em outra sombra e que talvez de lá o ângulo de visão fizesse com que as figuras teriam a mesma forma que o pessoal da carreta via.

A turma daqui continuava a descobrir figuras e comentar em voz alta, até que combinaram ficar em silêncio para dar um gelo nele enquanto lá ia descobrindo e explicando o que via, porém sendo ignorado pelos demais.

O silêncio surtiu efeito. Passado um tempo, o rabugento foi se chegando novamente para a carreta pedindo para continuar na brincadeira.
   
Depois de uns “sins” e uns “nãos” ele voltou a deitar no assoalho no lugar de onde fora expulso. Permaneceu calado.

Um dos guris piscou o olho para os demais e disse:

- Agora vamos deixar o rabugento descobrir uma figura?

Houve concorde geral.

Olhos “campeando” o céu, o rabugento num salto disse:

- Olha ali, perto daquela nuvem bem grossa a cabeça de um burro!

- Ah, ah, ah, ah! Até que enfim temos que concordar contigo. É o teu focinho sem “tirá” nem “botá”. Ah, ah, ah, ah!

Ele apeou da carreta e deu uma rajada de esterco seco de ovelha nos outros, terminando com a sesteada.

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