Depois do almoço, a gurizada foi sestear
no assoalho da carreta à sombra do tarumã.
As nuvens brancas povoavam o céu azul,
qual um rebanho de ovelhas. Aos olhos dos guris elas iam formando figuras
conforme o vento moldava. Cavalos, leões, gatos, coelhos, velhos, papai noel,
patos, árvores, ursos e ovelhas, é claro, além do que a imaginação de cada um identificava.
Dentre os “sesteadores” havia um
rabugento chato, que não concordava com o achado dos outros e forçava que
concordassem com o que ele descobria. Se um visualizava uma cabeça de leão, ele
teimava que era uma cabeça de macaco.
A brincadeira conjunta terminou para ele
quando foi expulso da carreta para que fosse sestear em outra sombra e que
talvez de lá o ângulo de visão fizesse com que as figuras teriam a mesma forma
que o pessoal da carreta via.
A turma daqui continuava a descobrir
figuras e comentar em voz alta, até que combinaram ficar em silêncio para dar
um gelo nele enquanto lá ia descobrindo e explicando o que via, porém sendo
ignorado pelos demais.
O silêncio surtiu efeito. Passado um
tempo, o rabugento foi se chegando novamente para a carreta pedindo para
continuar na brincadeira.
Depois de uns “sins” e uns “nãos” ele
voltou a deitar no assoalho no lugar de onde fora expulso. Permaneceu calado.
Um dos guris piscou o olho para os
demais e disse:
- Agora vamos deixar o rabugento
descobrir uma figura?
Houve concorde geral.
Olhos “campeando” o céu, o rabugento num
salto disse:
- Olha ali, perto daquela nuvem bem grossa
a cabeça de um burro!
- Ah, ah, ah, ah! Até que enfim temos que
concordar contigo. É o teu focinho sem “tirá” nem “botá”. Ah, ah, ah, ah!
Ele apeou da carreta e deu uma rajada de
esterco seco de ovelha nos outros, terminando com a sesteada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário