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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

REBENQUEANDO A SORTE


Foi rebenqueando a sorte
que viveu o velho Tenório
era um mulato simplório
de fibra e caráter forte
peleava até com a morte
pra defender seus direitos
tinha lá os seus defeitos
que carregava consigo
mas pra servir um amigo
também tinha lá seu jeito

Homem calmo e pouca fala
de confiança e de palavra
tinha descendência escrava
remanescente das senzalas
um grande saber na mala
modesto e respeitador
nas lidas um professor
seriedade e fino trato
mas mesmo assim o mulato
foi deserdado do amor

Um taura das madrugadas
e das noites de serões
no aconchego dos galpões
ou nos tapetes de geada
um centauro nas estradas
na condução de uma tropa
tinha por quincha a copa
de um chapelão bem bagual
e um poncho marca Ideal
de deixar o frio na toca

A muitos patrões serviu
com presteza e honestidade
mesmo com o avanço da idade
os tropeços resistiu
foi como água de um rio
fertilizando a terra
foi combatente em guerras
foi um herói sem medalha
silenciando qual metralha
conforme a luta se encerra

Hoje o mulato descansa
talvez sendo o peão caseiro
num cemitério campeiro
lá no fundão da estância
como alguém sem importância
sem norte e sem razão
sem uma cruz com a inscrição
pelo menos com as iniciais
sendo um torrão a mais
a confundir-se com o chão

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