Ao entrar em ti galpão
que sobrevive no tempo
foi como entrar num templo
com picumã e fumaça
onde o atavismo da raça
sustenta-se nos esteios
trazendo velhos anseios
para o gaúcho que passa
Teu piso de chão batido
rasqueteado de vassoura
chamuscado da salmoura
e cinza como tempero
cama do laço campeiro
lugar de paz e sossego
onde se estende um pelego
sobre a carona e o baixeiro
O pai-de-fogo de angico
mantendo o fogo-de-chão
é o próprio coração
a crepitar sobranceiro
benevolente e hospitaleiro
sem distinguir procedência
cor de lenço ou preferência
a acolher o campeiro
Teus esteios tem o cerne
igual ao do pai-de-fogo
que descartam o malogro
e te sustentam seguros
velho galpão pelo duro
de mate prosa e encilha
onde a Chama Farroupilha
fumaceia pra o futuro
Foi num passado distante
que um ancestral acendeu
e o fogo jamais morreu
queimando no mesmo chão
uma legenda de galpão
a fumacear sem descanso
ora bravo ora manso
secular fogo-de-chão
Trazes na tua fumaça
o velho incenso campeiro
a exalar de um braseiro
como o sangue escarlate
derramado nos combates
quando o gaúcho peleou
e depois pra ti voltou
pras calmas rodas de mate
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