Na parede do galpão
num prego enferrujado
o velho chapéu surrado
relíquia do nosso clã
colhia a picumã
dum angico em combustão
junto ao fogo-de-chão
no prelúdio das manhãs
Um basto sem procedência
que foi trono de ginetes
descansa num cavalete
das domas de antigamente
cambona com água quente
alça forrada com palha
no canto uma gorda talha
matava a sede da gente
Tosca chaleira de ferro
vaporava numa trempe
e no gancho da corrente
a panela pendurada
uma bomba prateada
na cuia por mim curtida
pras madrugadas compridas
matear com a peonada
Uma banqueta de couro
quatro bancos de três pernas
na parede uma lanterna
enfumaçada na manga
quatro canzis numa canga
um buçal e um cabresto
um balaio e um cesto
que a vó levava as quitandas
Um banco de duas pernas
pura madeira de lei
onde muito me sentei
ouvindo os causos do Januário
e uma metade de armário
na parede bem pregada
a farmácia improvisada
pra uso veterinário
Num engradado de madeira
qual um armário no esteio
um rebenque e um freio
uma adaga muito antiga
um facão marca Formiga
herança do avô paterno
espada formando o terno
das ferramentas de briga
Numa tabuinha na parede
um pouco arriba do fogão
era o suporte do lampião
pra iluminar as panelas
uma bacia e uma gamela
emborcadas sobre a mesa
tendo ao lado a bordalesa
empanturrada até a goela
A quincha de santa-fé
por dentro enfumaçada
uma foice ali cravada
cujo cabo apodreceu
e tudo que já foi meu
sem permissão foi tombado
pra ser um galpão gelado
onde o fogo morreu
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