Dois rapazes (um sem saber do outro), disputavam uma determinada moça, filha única, com ar de beata e de família muito religiosa . A danada, sorrateira, dava "corda" para os dois, às escondidas, através de bilhetes. Era bilhete pra lá e bilhete pra cá.
Cada um tinha um guri mensageiro, mas ela dois, "pra mode" não haver troca de destinatário. Nenhum guri sabia que tinha outro guri, ou guris, com a mesma missão, apesar de serem conhecidos entre si.
No vaivém dos bilhetes, o guri mensageiro de um dos rapazes, desconfiou que a moça nunca mandava resposta, então falou que ele era bobo, que a moça não queria nada com ele porque quando ela pegava o bilhete, não lia e amassava. Mas como recebia as mensagens dela por outro guri desconversou seu mensageiro que continuou sendo o fiel portador.
Num domingo de festa, na paróquia, dentre muitos paroquianos, estavam presentes os quatro guris, os dois rapazes, a moça com a família. Todos passeavam pelo pátio da igreja, porém não juntos.
Lá pelas tantas, coincidentemente quando os guris se encontraram, um dos mensageiros comentou:
- Aquele moço alto, de casaco e bombacha azul e lenço vermelho, me dá gorjeta pra levar bilhetes para aquela moça morena, de tranças, de blusa estampada e saia preta.
Outro guri diz:
- Safada, ela também me dá gorjeta para levar bilhetes para aquele outro moço de chapéu cinza, de aba larga, camisa e bombacha branca, lenço branco e colete da cor do chapéu.
Outro guri também se manifestou:
- Pois o de chapéu cinza me dá gorjeta pra levar bilhete pra ela.
Outro fala:
- Por mim ela manda bilhete para o moço de azul e também recebo gorjeta.
Os bilhetes que a moça recebia, eram guardados numa caixa, a qual só ela sabia o esconderijo, no seu próprio quarto, onde todas as noites lia e relia a correspondência recente, bem como as mais antigas.
Em uma noite de temporal, quando ela estava só, no seu quarto, já deitada, lendo os bilhetes, houve um estrondo muito forte de um raio. Assustada e com medo, ela correu até o quarto dos pais e pediu para deitar com eles. O pai então mandou que ela dormisse com a mãe e ele foi dormir no quarto da filha. Na correria, a caixa com os bilhetes ficou aberta sobre a cama, dando a oportunidade do velho ler todos os bilhetes.
Ali estavam bilhetes indecorosos, sugestões para encontros amorosos noturnos, proposta para fugir de casa, além de alguns desenhos obscenos.
Sem dormir o resto da noite, o velho esperou o novo dia para invadir o quarto onde mãe e filha dormiam.
Aos gritos, com a caixa na mão, esbufeteou a moça jogando todos os bilhetes por cima dela, pedindo explicação e ao mesmo tempo colocando sua esposa a par da situação.
Foi um reboliço danado, resultando à filha uma proibição de sair de casa ou conversar com alguém
Até na igreja não poderia ir.
Como eram muito religiosos, o velho foi contar ao padre e pedir que fosse umas duas ou três vezes confessar, levar a comunhão, aconselhar e até mesmo para umas aulas de música.
Na tardinha do mesmo dia o padre foi professar os sacramentos a domicílio, incluindo um longo conselho, num confessionário improvisado, onde só ele e a moça ficavam.
Os dias foram passando, as visitas do padre continuavam, o relacionamento da família voltando ao normal, os agradecimentos ao vigário, que às vezes ficava para um lanche ou então um almoço no domingo, após a missa.
Num desses domingos, a moça estava muito radiante e disposta, sugerindo que o padre a acompanhasse ao piano e cantou uma canção que emocionou os pais.
Na despedida o padre agradeceu a hospitalidade dos velhos sem antes tecer um caloroso elogio pela interpretação da filha como cantora.
Na semana seguinte a moça fugiu com o padre e os guris ficaram sem as gorjetas que lhes garantiam as merendas na escola.
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