Já era o terceiro dia de vento norte. O azul do céu dava lugar às nuvens cinza escuro, numa promessa de muita chuva.
Quando a madrugada se aproximava, uma trovoada comprida, longínqua, botou a goela no mundo. O peão retorceu-se no catre. Um relâmpago, seguido de outra trovoada mais forte, fez com que ele fosse até a janela do rancho pra uma espiada no tempo.
O cavalo havia ficado preso no potreirinho dos fundos, visto um compromisso ainda antes do meio dia daquela manhã que a madrugada cabresteava.
Acomodou-se novamente no catre. Quando quis cochilar, o polaco abriu o peito, como um parceiro dando o alerta pra que não perdesse a hora.
Pulou, vestiu-se, atiçou o fogo, recostou a cambona nos tições para um mate e o café. Enquanto a água aprontava, trouxe o cavalo para o galpão, deu uma enxugada no lombo, debulhou meia dúzia de espigas, voltou para dar jeito no mate.
Mais relâmpagos, mais trovoadas, até que chegou a chuva na garupa de um vento assobiador. Juntando-se ao barulho da chuva, o turruc, turruc do cavalo mastigando o milho.
O polaco continuava cantando, enquanto o peão já de café tomado, se aprontou, encilhou, vestiu o poncho, fechou o rancho, alçou a perna e saiu. O cusco, nem precisou ser chamado. Retoçou voluntariamente na frente do cavalo, como sempre fazia nos dias de tempo bom.
O vento já havia acalmado um pouco, mas a chuva era macanuda, trazendo relâmpagos que riscavam o céu, estourando um raio atrás do outro.
Poderia ter ficado pelo rancho, tenteando que a chuva amainasse? Não, o compromisso era daqueles de fio de bigode e ele tinha garantido sua palavra e não seria por motivo de tempo feio que iria deixar de cumprir.
Os relâmpagos foram dando lugar ao clarão do dia que se espremia por entre a cortina de chuva, enquanto a silhueta de um centauro e de um cusco se confundiam em meio ao aguaceiro.