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terça-feira, 26 de maio de 2020

NO GALPÃO





Acordou mas continuou deitado, apenas esperando o cantar do galo pra pular da cama. Uma boa espreguiçada, um longo bocejo e saltou.

Enxaguou a boca, um tapa d’água no rosto, uma ajeitada na melena e se foi pro galpão. Prepara o fogo, o mate, puxa o banco e enquanto a água aquenta, fecha um palheiro. A noite foi fria. Na calma da madrugada, ainda com o clarão da lua, dava pra ver a “tordilha” que vitrificava o campo.

A água já está pronta. Em uma das mãos a cuia, a outra que se apóia no joelho, ora sai pra alçar a cambona e encher o mate, ora pra levar o palheiro a uma tragada. O galo canta de novo, trazendo o pensamento do xiru de volta. Como vamos longe nestas horas...

O clarão do fogo faz as sombras dançarem pelo chão e pelas paredes. No santa-fé da quincha, pendentes de picumã também participam da dança, esta provocada pelo ventito que vem das frestas trazendo a aragem da geada.

O mate continua, o palheiro fumega, a cambona é enchida mais uma vez. 

O calor do fogo e do mate aquece o corpo e a alma, enquanto negócios, compromissos, cambichos, parceiros que já partiram, são relembrados.

Um estalo no fogo chuvisca o galpão de faíscas. Talvez fosse um daqueles parceiros que pediu permissão ao Patrão do Céu pra dar um volteio e ao se chegar pro mate enroscou a espora no tição. Quem sabe!?

O xiru tem quase certeza de que há pouco ouviu um Ôh! de casa. Estranhou porque a cachorrada não deu sinal.
Levantou-se, fez o sinal da cruz e partiu pra lida.


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