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domingo, 10 de maio de 2020

PAAARA A GAITA




Uma gaita de oito baixos
um violão e um pandeiro
um macanudo “candieiro”
na sala cinco por quatro
que emoldurava o retrato
de um surungo fronteiro

A lua espiava tudo
pelas frestas da parede
as chinas tal como redes
balançavam as tranças longas
e entre chamamés e milongas
os xirus matavam a “sede”

Madrugada um “PAAARA A GAITA”
ecoou do mestre-sala
e um trinta guspindo bala
espatifou o “candieiro”
calou-se o violão e o pandeiro
e foi um gritedo na sala

O mulherio se foi ao quarto
num desespero alucinante
clamavam a todo instante
por Jesus e Nossa Senhora
os machos romperam pra fora
levando tudo por diante

No lusco-fusco da lua
o rolo não dava trégua
e o arsenal da macega
ia suprindo a indiada
que gritava em patacoada
- quem é macho não se entrega -

Já não se ouvia mais tiro
só tinido de “daga” e facão
reboliço e confusão
lá pelo meio do campo
e alguns tronchos e outros mancos
se “reborqueavam” no chão

A lua foi se escondendo
espiando o entrevero
se desgarraram os parceiros
e se espalharam as chinas
porque peleia é a sina
destes surungos fronteiros

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