Tive um mau
pressentimento
quando cheguei
na porteira
não vi minha
baia coleira
deitada me
esperando
cerrei perna e
galopando
nas casas
apeei
e de vereda
avistei
a cadela
agonizando
Quando chamei
por seu nome
abanou a cola
pra mim
senti que
chegava ao fim
a vida da
minha cadela
tentei
conversar com ela
mas a voz não
me saiu
e garanto que
ela sentiu
que eu tava
com nó na goela
Passei-lhe a
mão pelo corpo
examinando a
ferida
teve a pata
mordida
por uma cobra
venenosa
pobre cadela
amorosa
que já tinha
me livrado
quando
borquiei o arado
de uma
cruzeira assombrosa
Meus olhos se
encheram d’água
ao ver a
cadela morrendo
às vezes eu
não compreendo
estes deslizes
da sorte
o homem já não
foi forte
mesmo lá no
paraíso
quando Adão
perdeu o juízo
deixando-nos
de herança a morte
Abri uma cova
funda
na tapera da
coxilha
junto ao pé de
coronilha
pra sepultar a
cadela
dei um adeus
para ela
numa homenagem
sincera
pois sei que
lá na tapera
vai ficar de
sentinela
Voltei pras
casas tristonho
com a garganta
apertada
fui logo ver a
ninhada
que grunhia
numa caixa
solução sempre
se acha
na lida do
campeirismo
reza o nosso
catecismo
para que se
crie guaxa
Levei todos
para dentro
ouvindo meu
coração
e debaixo do
fogão
ajeitei um
lugarzinho
sei que terão
o carinho
de todo o
pessoal da casa
batizaram uma
de brasa
faltam duas e
o cachorrinho
Os dias vão se
passando
e vai
crescendo a ninhada
a caixa já
está apertada
e não param
dentro dela
o cusquinho é
o sentinela
e rusna
botando banca
e a que tem
coleira branca
é certo fico
com ela
É igualzinha a
mãe
tem o rabinho
enroscado
uma manchinha
no lado
herança da
minha coleira
muito mimosa e
festeira
gosto de
brincar com ela
pois será
outra cadela
a me esperar
na porteira
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