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segunda-feira, 15 de junho de 2020

BAIA COLEIRA


Tive um mau pressentimento
quando cheguei na porteira
não vi minha baia coleira
deitada me esperando
cerrei perna e galopando
nas casas apeei
e de vereda avistei
a cadela agonizando

Quando chamei por seu nome
abanou a cola pra mim
senti que chegava ao fim
a vida da minha cadela
tentei conversar com ela
mas a voz não me saiu
e garanto que ela sentiu
que eu tava com nó na goela

Passei-lhe a mão pelo corpo
examinando a ferida
teve a pata mordida
por uma cobra venenosa
pobre cadela amorosa
que já tinha me livrado
quando borquiei o arado
de uma cruzeira assombrosa

Meus olhos se encheram d’água
ao ver a cadela morrendo
às vezes eu não compreendo
estes deslizes da sorte
o homem já não foi forte
mesmo lá no paraíso
quando Adão perdeu o juízo
deixando-nos de herança a morte

Abri uma cova funda
na tapera da coxilha
junto ao pé de coronilha
pra sepultar a cadela
dei um adeus para ela
numa homenagem sincera
pois sei que lá na tapera
vai ficar de sentinela

Voltei pras casas tristonho
com a garganta apertada
fui logo ver a ninhada
que grunhia numa caixa
solução sempre se acha
na lida do campeirismo
reza o nosso catecismo
para que se crie guaxa

Levei todos para dentro
ouvindo meu coração
e debaixo do fogão
ajeitei um lugarzinho
sei que terão o carinho
de todo o pessoal da casa
batizaram uma de brasa
faltam duas e o cachorrinho

Os dias vão se passando
e vai crescendo a ninhada
a caixa já está apertada
e não param dentro dela
o cusquinho é o sentinela
e rusna botando banca
e a que tem coleira branca
é certo fico com ela

É igualzinha a mãe
tem o rabinho enroscado
uma manchinha no lado
herança da minha coleira
muito mimosa e festeira
gosto de brincar com ela
pois será outra cadela
a me esperar na porteira

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