Foi na cancha do Espinilho
minha última carreira
porque a minha parilheira
vinha com luz de pescoço
e o filho do João Caroço
trapaceiro e emborrachado
abanou um lenço colorado
e a égua se abriu seu moço
O julgador outro maula
com um sorriso entre os dentes
considerou um acidente
e me brindou com a derrota
puxei do cano da bota
uma língua de chimango
e qual um touro berrando
fui resolvendo a lorota
E peleando ali solito
não me escapei de uns pontaços
nos dedos nas mãos nos braços
mesmo eu sendo ligeiro
mas no borracho trapaceiro
que era o motivo da encrenca
mandei-lhe um golpe na penca
estrebuchando o baixeiro
Cansado peguei a estrada
entre arrependido e satisfeito
mas era o meu o direito
de reclamar da trapaça
nem deixar passar de graça
aquele baita desaforo
de um fiofó de cachorro
na conserva de cachaça
Já nas casas fiz um mate
e fiquei ali pensativo
em botar o pé no estrivo
e explorar a geografia
mudar de ares um dia
cruzar a-lo-largo a porteira
quem sabe até a fronteira
numa vereda consciente
pra se dar conta o vivente
de que a vida é passageira
A égua botei no brique
e em carreira não me meto
vou sossegar o esqueleto
no costado das percantas
quem sabe lá pelas tantas
tenha um amor verdadeiro
um ranchito hospitaleiro
junto de uma alma santa