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sexta-feira, 3 de maio de 2013

ALTO NOS PELEGOS

Dentre a rapaziada lá de fora, tinha um parceiro que era fora do padrão. Muito alto e magro a dar com um pau, como se diz. Era mais conhecido como “Coqueiro”, apesar de outros apelidos como, taquara, cipó, girafa...

Pois um dia, num fandango do outro lado do rio, já no município vizinho, se alinhavou com uma prenda. O Coqueiro não falava noutra coisa. O namoro era o seu xodó do momento.

Aos domingos, encilhava sua baia, que por sinal, floraça de égua, gorda, bem domada, buena de rédea e marchadeira e se bandeava para o outro lado pra amezinar os anseios do coração.

Depois que arrumou a namorada, a baia teve mais atenção. Dormia na cocheira, comia um milhozito e um verde à tardinha. Afinal a montaria era o meio de transporte do taura.

Certa feita, num sábado de baile lá do outro lado, a baia amanheceu abichornada, não levantava, se rolava, não comeu a ração.
- Cólica na égua, disse o velho.

O Coqueiro e o pai dele de pronto iniciaram os procedimentos campeiros pra reanimar a baia. Até uma comadre velha veio benzer o animal.

O tempo ia passando, eles lidando com a medicina campeira, mas a mostra de melhora não vinha nunca. A hora do baile chegando e o Coqueiro já apavorado deixou o velho cuidando a égua e foi pegar um tobiano feiarrão, que puxava a pipa d’água. O tobiano era pouco mais que um petiço. A diferença era mínima, mas era a única alternativa para não perder o baile.

Chegou do potreiro montado no cavalito e seus pés por pouco não arrastavam no chão, afinal, o Coqueiro era realmente alto.

O pai dele, com uma risada de toda a boca, duvidou que ele fosse ao baile no tobiano, pois seria um verdadeiro fiasco ele daquele tamanho montado arrastando os pés.

Mas paixão é paixão, e ele depois de caprichar na pilcha, encilhou, colocando sobre o arreio mais ou menos uns oito pelegos. Teve que emendar a cincha com um ajoujo, porque além da pelegama, o tobiano era pançudo e daqueles que incham a pança na hora do aperto.

Pra encurtar o causo, o Coqueiro alçou a perna e saiu mandando lata. Mesmo com o andaime de pelego, ainda as botas roçavam nas macegas.

No outro dia chegou de volta em casa, contou que a uma certa distância do salão do dito baile, apeou e levou o tobiano a cabresto, já que a parceria estava reunida em frente o salão e a zombaria seria certa.

O Coqueiro “ficou feio no retrato”  mas não perdeu o baile nem a prenda.
        

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