Mais uma vez ele logrou o sol. Quando clareou já tinha percorrido algumas léguas de estrada.
O compromisso de comprar uns boizitos tirou da cama mais cedo que de costume, o peão. Só ele não, o cusco e o cavalo. Quem é da lida, às vezes não se dá conta de que os bichos também assumem com o dono. Só percebeu quando o clarão do sol espichou a sombra do cusco que tranqueava na sua frente.
Aos poucos tudo ia se acordando. O campo parecia ter lavado o rosto a bem pouco. Na estrada, os rastos da noite ainda estavam frescos. Por falar em rasto, o cusco cravou o focinho no chão, acelerou o tranco, cruzou por baixo do arame e coleando num ziguezague ganiçou numa macega e se prendeu atrás de uma lebre. Ah! Ah! bichito ligeiro...!
Chegou no passinho, a sanga fazia contraponto com o canto d’um sabiá, faceiro com as pitangas. O cavalo cheirou a água, lambeu, mascou o freio, mas não quis beber. Subiu troteando forte o outro lado. O sol e a sombra do mato bordavam o chão, parecendo o couro de uma jaguatirica.
Com o passar dos moirões, num trote espichado, já estava quase chegando na porteira pra encontrar os companheiros. Num upa, chegou. A indiada ainda não tinha boleado a perna. A cachorrada deles fez um alarido pro lado do recém chegado. Buenas pra cá, buenas pra lá, cruzaram a porteira e seguiram.
Num relance, o peão se deu conta de que o cusco dele não estava no meio dos outros.
Diacho! Se perder não se perderia, era acostumado passar por ali. Cobra de manhã cedo, era difícil, mas ...!?
O dia passou, o negócio foi feito, voltou pra casa, desencilhou, atirou uma água no cavalo, mas sempre com sentido no cusco. Olhou na volta, chamou, chamou e nada.
Passou uns dias abichornado. Não tinha muita graça pras coisas, afinal, era apegado aos bichos.
Mas tudo acabou bem, pois não é que o cusco estava aquerenciado na casa d’um vizinho, de retoço com uma cadela no primeiro cio!? Safado!
Quando apareceu em casa, veio festejar com a cara de quem tinha culpa de alguma coisa, porém feliz.
Bem diz o ditado: “o que não é parecido com o dono é roubado”.
É da lida!
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