A velha Siá Morena, gostava de prosa, chimarrão e de um fumo bem amarelinho. As palhas pro cigarro ela mesmo tirava. Era campeã neste ofício que também lhe rendia uns presentes. Sabia umas canções antigas que cantava acompanhadas por uma lata quadrada, com um braço e cordas de violão esfregadas por um arco de cola de cavalo, imitando um violino, era a "rebeca" como chamava e quase da idade dela. Fabricação desconhecida. Presente de um mascate ao pai dela.
Seu rancho humilde era admirado pela limpeza e gosto pela arrumação. Na sala-varanda-cozinha, cada coisa em seu lugar. A roupa que usava ficava difícil ver qual o pedaço original, mas limpa e bem passada. Sentia-se o cheiro característico do sabão feito em casa, quando o ferro de brasa alisava o tecido. As roupas boas deixava pros passeios ou quando recebia os ricos, como dizia caçoando. Aliás, bem humorada sempre. Chegava a contagiar.
Minha primeira visita a ela deu-se por causa de um cobreiro danado que me saiu perto do umbigo e já estava quase fechando a volta. Segundo ela, fui na hora certa, pois se a cabeça encontra a cola, não tem mais cura.
Sua fama de benzedeira era motivo de muitas pessoas frequentarem seu rancho. Benzia pra tudo. Até casamentos rompidos já foram reconciliados com suas rezas.
Seguido vou visitá-la, mesmo sem precisar das benzeduras. Prosear, levar uma erva pra o mate, comprar umas rapaduras de leite e umas balas de coco que são enroladas em papel de seda, geralmente verde ou vermelho, franjados.
Numa dessas prosas perguntei qual o pedido de benzedura mais estranho que já tinham feito. Olhou pro infinito, puxou uma baforada do palheiro, esboçou um sorriso e respondeu: "meu fiu, Siá Morena quase que se atrapaiou aquela veiz que me pediram pra benzê um touro que tinha quebrado a peça. Achei que pra isso os meu santo não tinha competença, mas fiz a benzedura". Outra baforada e silenciou de olho estalado. Esperei mais um pouco a resposta e curioso perguntei: mas e daí Siá Morena, como se comportaram os santos? Respondeu: "os santo não sei, mas ganhei um terneirinho do dono do touro. Me disse ele que é a cara do pai. Hehehe!
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