Até a idade de oito anos, foi filho único. Morava num rancho simples, onde um umbu antigo, que ainda sombreava o terreiro, abrigava entre as raízes grossas e salientes, a estância da fantasia daquele guri, com suas mini mangueiras construídas com capricho, nada faltando, inclusive, banheiro para gado e ovelhas.
Solito, já que os vizinhos moravam a mais de légua, gastava o tempo a sua maneira. Enquanto folgava da escola e das lidas de guri de campanha, tropeava, vendia, comprava, banhava, marcava, enfim, tudo que era acostumado ver seu pai e demais peões fazerem ao patrão e que às vezes, também dava uma ajudazinha, conforme seu tamanho e idade permitisse.
Adquiria seu gado e ovelhas, nas carniças e na colheita do milho. Conhecia ainda na espiga se a “rês” era de ponta e apartava num balaio, onde mais tarde, depois de debulhada seria mais uma cabeça no seu rebanho.
Eram comuns os sonhos durante a noite, onde ora atiçava, ora ralhava com a cachorrada, chegando muitas vezes levantar e caminhar pelo rancho, sofrenando um cavalo e reboleando o braço como se fosse atirar uma armada.
Com a chegada da mana, seu tempo ficou mais escasso, prejudicando um pouco seu serviço. As mangueiras necessitando uma ajeitada, o banho no gado, trocar o touro, vacinar, tosar as ovelhas, curar, retemperar a calda dos banheiros, marcar, castrar...
Muitas vezes queixou-se ao pai que a “Estância do Umbu” tava ficando abandonada, que já havia falado para a mãe, mas ela só respondia que uma hora ou outra, sobraria um tempinho.
Com a maninha no colo, sentava-se à sombra do oitão e contemplava absorto o abandono de seu patrimônio e resmungava com a miúda, atribuindo-lhe a culpa de tudo estar ao descaso.
Raramente aos domingos, uma fugidinha na estância, já que o pai estava por casa e enquanto chimarreava, tinha ao colo a prendinha.
Passou o ano e o dono da “Estância do Umbu”, concluiu o que a escolinha rural oferecia. Em consequência, meio contrariado, teve que ir morar na cidade, na casa de um tio para continuar a estudar, visto sua inteligência.
Passou o ano e o dono da “Estância do Umbu”, concluiu o que a escolinha rural oferecia. Em consequência, meio contrariado, teve que ir morar na cidade, na casa de um tio para continuar a estudar, visto sua inteligência.
As horas, os dias e os meses custavam a passar. Umas visitinhas da mãe, um recadinho do pai, amenizavam a saudade. Muitas vezes, os sonhos também lhe visitavam.
Fim de ano, férias e lá se foi ele pra fora. Chegou junto com a noite. Abraços, beijos e a comidinha caseira gostosa. A mana já caminhava e era cheia de vontades.
Cedito no outro dia, ansioso, foi matar a saudade da sua estância, porém ela estava por terra, onde por entre as raízes do velho umbu, via-se o rastro, ainda fresco, dos sapatinhos da mana.
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